Esta terça-feira os ex-árbitros de futebol, que comentam nos diversos órgãos de comunicação social, foram à Cidade do Futebol, a convite do Concelho de Arbitragem (CA) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), para uma acção de formação com o intuito, não só de esclarecermos as dúvidas que levámos e apresentámos, mas também para ouvir as directivas principais que foram dadas aos árbitros do futebol profissional para esta época. Neste sentido vou de forma sucinta falar dos principais assuntos abordados.
Ter uma atitude mais consistente e uniforme para o comportamento de todos os que estão nos bancos de suplentes, graduando a actuação e intervenção do árbitro, desde um aviso público verbal, passando pelo cartão amarelo e indo até à expulsão se as palavras e gestos proferidos e ditos assim o justificarem. O principal é não pactuarem com os sistemáticos protestos e palavras proferidas sem nada fazerem.
Gestão do Tempo
Estar atento à “queima de tempo”, avisar os jogadores que o fizerem, agir disciplinarmente, e no final de cada parte compensarem o tempo que for necessário. Solicitar neste caso em particular a intervenção do VAR no sentido de contabilizar as perdas que existiram, por exemplo, com uma assistência ao guarda-redes. Agir com coragem e determinação no que à recuperação de tempo perdido diz respeito.
Respeito pelas decisões do árbitro
Aqui o ênfase é de não permitir que a autoridade do árbitro seja posta em causa, seja por protestos, por gestos, em situações de jogadores a correr na direcção do árbitro, de “mobbing” ou seja de aglomeração e ajuntamentos de vários jogadores, tudo circunstâncias em que a mostragem de cartões se impõe.
VAR
A linha de intervenção para além do que está protocolado, intervir quando houver “óbvio e claro erro”, tem de assentar nas seguintes questões. O VAR tem a certeza e tem a prova (imagem) e com isso vai “salvar” o árbitro do erro ou vai criar um problema. Outra questão interessante é que as verificações do VAR são em silêncio “silence check” mas depois, caso intervenha para propôr a revisão da imagem, já fala com o árbitro, descreve o que está a ver, diz se houve agressão, ou se foi penálti, até colabora na questão de como recomeçar o jogo se tal for necessário, ou seja, não se limita a propôr ao árbitro para ir ao monitor rever o lance, vai mais longe e ajuda em todo o processo. Também o árbitro aquando das decisões que está a tomar no terreno de jogo, por exemplo um agarrão de um defesa a um avançado na área, diz pelo sistema de intercomunicador o que está a ver e a decisão que toma, facilitando com esta acção a possibilidade de o VAR verificar algo que o árbitro não viu ou não está a valorizar podendo assim suportar a decisão ou intervir.
Linhas do fora de jogo
O tempo que leva a colocar as linhas do fora de jogo, tendo em consideração, o momento exacto do contacto na bola do jogador que faz o passe, e depois da parte do corpo a ter em consideração, quer em relação ao colega atacante, quer em relação ao defensor. Colocar a grelha de mapeação do terreno de jogo tendo em conta as marcações do mesmo, que servem de referência para a tecnologia, e depois a verificação e confirmação, por vezes mais do que uma vez, no caso dos foras de jogo de poucos centímetros, pode levar entre um minuto e meio a dois minutos. De destacar que para a validação do momento exacto do toque na bola por parte do jogador que faz o passe, têm de ser colocados quatro frames, o primeiro antes de tocar, o quarto quando a bola já saiu e os dois que são validados, ou seja, o segundo e o terceiro frame, que são o momento do toque ou contacto com a bola, pois devido ao arrastamento da imagem, por vezes, tem de se considerar estes dois frames, sendo que o segundo normalmente é o mais verosímil. De realçar ainda que factores como, mais ou menos luz dos estádios, o facto de os campos onde a colocação das cameras não permitirem uma altura maior, ou a colocação equidistante ao centro do terreno de jogo de 16 metros das cameras do fora de jogo, entre outros factores, prejudicam a celeridade do processo.
Diversos
A nota do desempenho do árbitro enquanto VAR vale 10% da sua classificação final. Foram ainda dadas indicações aos árbitros no que diz respeito à gestão e uniformização de mostragem de cartões amarelos, quer quando se trata do primeiro mas, sobretudo, quando é o segundo mostrado ao mesmo jogador. Destaque para que a mostragem do primeiro cartão se tiver de ser no primeiro minuto de jogo, sobretudo em situações de entradas negligentes ou das previstas nas leis não são geríveis, ou seja, tem de ser mostrado. E dentro deste conceito foram trabalhadas questões com os árbitros no que diz respeito à gestão do jogo. Foi também falada a questão da colocação e posicionamento dos guarda-redes aquando da execução dos pontapés de penálti. Os guarda-redes têm de estar com um dos pés sobre a linha de baliza podendo apenas adiantar o outro pé, ate à execução do penálti, e foi falado que, nos foras de jogo em que um jogador não toca na bola, só será sancionado se tiver um claro impacto na acção do seu adversário ou na visão do mesmo.
Agradecimento ao CA da FPF por esta sessão de esclarecimento, ficando desde já o compromisso de futuras sessões inclusivamente práticas e ao nível do VAR. O caminho e o futuro faz-se caminhado e a arbitragem será tanto melhor compreendida quanto maior for a transparência e abertura ao exterior.