Autor

Jorge Faustino

Data: 19/12/2017

“Respeita-te e os outros te respeitarão”

Aconteceu, este fim-de-semana, a jornada que esteve para não acontecer.

Há cerca de vinte e poucos dias a quase totalidade dos árbitros e árbitros assistentes do futebol profissional enviaram pedido de dispensa para o passado fim-de-semana. Através de um comunicado da APAF, esclareceram que se tratava de uma medida de protesto e identificaram alguns pressupostos que, caso não se estivessem a verificar na passada semana, fariam com que os campeonatos profissionais parassem. Considero importante recordar aqui aquele que terá sido o pressuposto mais forte e aquele que terá levado à posição de pseudo-força dos árbitros:

“A ausência dos árbitros nas competições profissionais será efetiva, nessa data (jornada deste fim-de-semana), caso não se verifiquem os seguintes pressupostos: Total ausência de insinuações, da parte de clubes e agentes desportivos, que coloquem em causa a honra e o bom nome dos árbitros; por clubes e agentes desportivos entendem-se os seus dirigentes, treinadores, jogadores e demais funcionários, os meios de comunicação próprios e aqueles que promovem nas redes sociais;
O período de 20 dias com total ausência de insinuações deve abranger todas estas pessoas e meios. Para que não restem dúvidas, entendemos por insinuações: acusar os árbitros de errarem de forma propositada; acusar árbitros de prejudicarem sempre o mesmo clube; referirem-se, direta ou indiretamente, a qualquer ato não provado de corrupção; aplicar aos árbitros, de forma direta ou indireta, expressões como «polvo», «padre», «diácono» ou «apito dourado», entre outras infelizmente utilizadas por diversos clubes já esta época”

Deverá o leitor apelar à sua memória de curto prazo para fazer uma reflexão sobre o que se passou nas últimas semanas e avaliar se efectivamente se viveu um “período de 20 dias com total ausência de insinuações”.

Os árbitros, esses, também terão feito a sua reflexão e, aparentemente, sentem-se confortáveis com o comportamento dos clubes e agentes desportivos no referido período.

Entendo que uma greve, mesmo que mascarada de “dispensa de atuação”, é um instrumento a utilizar apenas em situações limite. Situações de extrema gravidade. Situações que, na verdade, foram acontecendo nos últimos tempos e que, por isso, legitimavam uma tomada de posição mais dura por parte dos árbitros. Tanto, que até o presidente da Federação Portuguesa de Futebol teve declarações neste sentido.

No entanto, a importância e responsabilidade que os árbitros e, já agora, a APAF têm no futebol português impõe-lhes que não tomem medidas – ameaças – sem a devida reflexão sobre as consequências das mesmas. Não menos importante, não podem tomar posições públicas desta dimensão sem a certeza de existirem condições internas e externas ao grupo dos árbitros para assumir essa decisão.

O título, de autoria de Confúcio, um filósofo e pensador chinês que viveu há cerca de 2500 anos, diz tudo…

Fonte: Público