Autor

Jorge Faustino

Data: 15/11/2018

O que o futebol quer

Existem análises a lances que, para serem corretas e justas, não cabem nos 200 caracteres que normalmente tenho aquando das avaliações quer faço do trabalho dos árbitros que dirigem os jogos dos três ditos grandes. Já o escrevi aqui e, hoje, repito.

Isto porque nos jogos deste fim-de-semana aconteceram algumas decisões que, apontando-as eu erros de arbitragem, merecem uma análise mais profunda do que o simples: falhou!

No jogo da jornada, entre os dois primeiros classificados, Porto e Braga (faz sentido falarmos apenas em 3 grandes? Se o critério é o historial, ok. Se é o passado recente e o presente, estamos a ser muito injustos com o Braga), apontei um erro importante à equipa de arbitragem: pontapé de penálti por sancionar favorável ao Porto por mão de Sequeira após cabeceamento de Soares. É, no entanto, importante sublinhar que, opinar após ver várias repetições, de vários ângulos e sem ter a pressão de tomar uma decisão em centésimos de segundo (árbitro) ou até vários segundos (VAR), é complemente diferente. Não digo mais cómodo, porque sei e sinto a responsabilidade que tenho ao avaliar publicamente o trabalho dos meus ex-colegas. Munido dessas tais repetições e ângulos diferentes, pude perceber que o movimento de braço do Sequeira não é tão fortuito ou inocente como terá parecido ao Artur Soares Dias dentro do campo. Pude ver que, de forma deliberada e com o braço fora do plano do corpo, desviou a bola. O Artur, que estava bem colocado, terá visto um jogador a virar-se, com o braço em posição praticamente natural, a ser surpreendido pelo cabeceamento e a levar com a bola no braço. A velocidade do jogo tem destas armadilhas. O Artur decidiu com base no que viu, para ele, não houve penálti.  O videoárbitro terá visto a mão, também terá visto que o árbitro viu a mão e, considerando que havia margem para discussão (gesto deliberado ou não?) optou, bem, por não intervir. O VAR decidiu bem, considerando aquilo que está protocolado.

Uma última nota sobre este lance: o jogo acabou logo após esse lance, num momento em que o VAR ainda estaria a rever o lance. Se este decidisse chamar o árbitro para ver as imagens e alterar a decisão inicial, poderia fazê-lo até que o árbitro estivesse em campo. As indicações nestes casos são: alertar o árbitro de que uma decisão está a ser revista para que este não saia do terreno e possa, ele, alertar os jogadores para que também aí permaneçam. Depois da decisão final, alterar ou manter a decisão, informa-se os jogadores e procede-se em consonância, assinalar o penálti ou seguir para o intervalo.

Outros dois lances críticos aconteceram no Sporting – Chaves. Bruno Galo entrou a pés juntos de forma violenta sobre Acuña. Isto foi o que o árbitro viu e o que muitos de nós viram nas primeiras repetições que deram desse lance. Expulsão claríssima. Mas depois… surgiu o tal ângulo que nos “tramou” a todos: Bruno Gallo apenas acretou com um pé em Acuña e ao mesmo tempo que acertava na bola. Foi um lance duro. Merecedor de vermelho? Não. Mas o árbitro não teve o tal ângulo. E o VAR, que terá tido oportunidade de ver o que nós vimos, ficou também ele preso às amarras do protocolo… não era um erro claro. Mesmo com aquela imagem, haveria quem aceitasse o vermelho. Não podia intervir.

A terminar, o penálti de William sobre Bas Dost. O Tiago Martins avisou William que não ia tolerar mais agarrões. William colocou o braço na cintura do holandês quando este se movimentava. Foi o que bastou para o Tiago ver e assinalar o panálti. Decidiu bem com base no que viu e até com base na letra da lei. Por isso o VAR nada podia fazer. A pergunta que podemos deixar é: o Futebol quer que se assinalem penáltis assim?

 

Artigo publicado no jornal Record na edição de 14Nov2018