É rara a jornada em que não haja um jogador, dirigente, jornalista e/ou adeptos a queixar-se que houve “dualidade de critérios” ou que as decisões do(s) árbitro(s) não obedeceram a “critérios uniformes”.
Faz “confusão” a qualquer pessoa, que veja com regularidade jogos de futebol, a forma como os árbitros tomam muitas vezes decisões diferentes em lances aparentemente semelhantes.
Quem já viveu a experiência de dirigir um jogo de futebol compreenderá mais facilmente que aconteçam estas diferenças de critério. Quem vive a arbitragem em permanência sabe o quanto se trabalha para tentar reduzir ao mínimo estas situações.
Digo reduzir porque sabemos que, enquanto forem homens a jogar e outros a decidir, independentemente de contarem com apoio de tecnologias – vídeo-árbitro incluído, haverão sempre situações dúbias e que estarão sujeitas opiniões dispares.
São três as dimensões deste problema da arbitragem. Três níveis de desafio a ultrapassar na procura dessa uniformidade de critérios:
Um árbitro num jogo. Ao longo de noventa minutos um árbitro toma dezenas ou centenas de decisões (o facto de não assinalar uma falta num determinado lance é, só por si, uma tomada de decisão). O desafio desse árbitro, para além de errar o menos possível, é ser capaz de independentemente da sua colocação em determinado lance, do ambiente em que o jogo decorre, do cansaço emocional e físico que possa ter, da maior ou menor velocidade do jogo, conseguir decidir de forma igual lances semelhantes que acontecem em momentos diferentes do mesmo jogo. Não é fácil…
O mesmo árbitro em jogos diferentes. O segundo desafio na busca de um critério uniforme está ainda “fechado” num mesmo árbitro. Decidir de forma igual lances semelhantes ao longo noventa minutos não é fácil. Decidir da mesma forma em lances, também eles semelhantes, mas em que um ocorre esta semana e o outro na semana ou mês seguinte é, no mínimo, um desafio muito ambicioso. Apenas com muito estudo (teórico e prático) e, principalmente, com muita experiência, pode um árbitro ambicionar a conseguir ter esse critério uniforme ao longo de uma época.
Árbitros diferentes em jogos diferentes. Quando avançamos para um terceiro nível desta problemática em que esperamos que vários árbitros, com diferentes personalidades e diferentes níveis de maturidade, em jogos temporalmente distantes, com diferentes intervenientes e em diferentes contextos, consigam decidir da mesma forma situações de jogo semelhantes… não estamos a ser humanos.
Jogadores, dirigentes, jornalistas e adeptos, desiludam-se. Nunca irão ter decisões uniformes ao longo de um campeonato de trinta e quatro jornadas. Seria um milagre.
Jogadores, dirigentes, jornalistas e adeptos, não deixem de acreditar em milagres porque os árbitros trabalham dezenas de horas por semana na busca desse milagre. Muitas horas por semana são dedicadas a ver vídeos de lances, a estudar os melhores posicionamentos, a melhorar comunicação da equipa de arbitragem e a definir critérios de análise. Tudo isto na busca de um milagre que não vai acontecer. Tudo isto para ficar um pouco mais longe do erro que nunca vai desaparecer.