Autor

Jorge Faustino

Data: 30/05/2017

Balanço da época 2017/2018

Terminou a época 2017/2018. A época de estreia do vídeo-árbitro (VAR) na competição máxima do futebol português.

Foi uma época em tudo igual às outras: alguns excelentes jogos de futebol, fantásticos jogadores, grandes golos, despedimentos de treinadores, castigos a dirigentes e, espantemo-nos, contestação aos árbitros e à arbitragem.

O tão ansiado vídeo-árbitro não foi o milagre que se esperava para pacificar o nosso futebol.

Foi, no entanto, muito importante em diversas situações como a anulação de alguns golos precedidos por infracção à lei do fora-de-jogo. Bem os árbitros assistentes que, em caso de dúvida, arriscaram mais deixando prosseguir o jogo, conscientes que o vídeo-árbitro iria corrigir a sua decisão caso esta fosse errada.

Numa primeira fase da época e até os jogadores se consciencializarem da preponderância do vídeo-arbitro, foi de extrema importância em situações de faltas grosseiras (pisões, entradas de sola e outras de gravidade semelhante) não facilmente detectáveis pelo árbitro no terreno de jogo. Por “culpa” do vídeo-árbitro houve mais expulsões que nas épocas anteriores.

Nas decisões nas áreas (lances de penálti) verificou-se uma redução dos erros dos árbitros. Tal, no entanto, não trouxe significativa redução na discussão e barulho pós-jogo em torno destes lances. Em quase todas as jornadas houve alguma equipa, treinador ou dirigente a questionar a honestidade e/ou competência dos árbitros, dos vídeo-árbitros e até dos técnicos de televisão por sentir que foram prejudicados em com algum pontapé de penálti por assinalar a seu favor ou mal assinalado contra si. Neste capítulo, nada de muito diferente do que era o futebol português da era “pré vídeo-árbitro”.

Ainda no lado da contestação, foi curioso acompanhar o desconhecimento que adeptos e alguns intervenientes do jogo demostraram ao reclamar muitas vezes a intervenção do vídeo-árbitro em situações não protocoladas: lances pouco claros nas áreas, expulsões motivadas por segunda amarelo, entre outros.

Não deixa de ser curioso e interessante recuar um ano e analisar aquele que foi o primeiro jogo com intervenção “live” do vídeo-árbitro em Portugal para perceber que, logo nessa partida, se puderam observar os principais indicadores das potencialidades, benefícios mas também limitações desta nova ferramenta do futebol.

A final da Taça de Portugal 2016/2917, entre o Benfica e o Vitória SC, foi o primeiro jogo de uma competição nacional onde se utilizou o vídeo-árbitro em modo “live”. Hugo Miguel foi o árbitro dessa partida histórica para o futebol português onde Jorge Sousa desempenhou a função vídeo-árbitro (VAR) e Artur Soares Dias foi 2º vídeo-árbitro (aquele que quando o vídeo-árbitro principal está a analisar imagens de um lance, e o jogo não foi interrompido, continua a acompanhar a jogada para detectar possíveis situações/decisões que justifiquem revisão).

Nesse jogo, tal como na maior parte dos jogos da Liga 2017/2018, o árbitro não recorreu à ajuda do vídeo-árbitro, nem aconteceu que o vídeo-árbitro aconselhasse o árbitro a rever qualquer decisão.

Aconteceram três situações que poderiam implicar revisão da decisão. Em todas, a equipa de arbitragem decidiu correctamente e sem ajuda do vídeo-árbitro.
Aos 12 minutos, Hugo Miguel percebeu, bem, que não houve infracção quando Josué, na sua área, ao fazer um tacle para evitar cruzamento, colocou mão no solo para se apoiar (posição natural) e a bola, pontapeada a curta distância, foi embater no seu braço.
Na segunda situação de possível pontapé de penálti, aos 56 minutos, também não houve infracção pois a bola bateu na mão de Josué vinda de um ressalto inesperado e a curta distância. Esclarecimento: nesta situação não houve consulta ao vídeo-árbitro. A sinalética feita pelo Hugo Miguel (apontar para o auricular) é a que está estipulada para situações em que o jogo está interrompido e o vídeo-árbitro pede ao árbitro para retardar o recomeço de jogo. Tal pedido acontece quando o vídeo-árbitro estiver ainda a verificar se uma situação anterior (no caso, a mão de Josué) merece ser ou não revista pelo árbitro. Se o vídeo-árbitro “deixar” o jogo recomeçar fica impossibilitado de sugerir ao árbitro que este reveja o lance pois, de acordo com as leis de jogo, o árbitro só poderá corrigir ou voltar atrás numa decisão caso o jogo não tenha ainda recomeçado.
No golo de Jiménez terá bastado uma repetição para que o vídeo-árbitro ficasse esclarecido da legalidade do lance.

Nas três situações acima descritas teria bastado o silêncio de Jorge Sousa para que Hugo Miguel soubesse que tinha acertado nas decisões. Acredito, no entanto, que as palavras “Boa decisão. Siga.” terão saído da carrinha do vídeo-árbitro para sistema de comunicação áudio da equipa de arbitragem dando ao Hugo Miguel e restante equipa no terreno de jogo, a confiança e serenidade necessárias para continuarem a excelente arbitragem que fizeram.

Para a época 2018/2019 os clubes já aprovaram algumas alterações ao regulamento de arbitragem e disciplina. Essa época é que vai correr bem e sem discussões sobre arbitragens…

Fonte: Público