Sim! Andamos todos doidos. Se não doidos, irresponsáveis. Se não todos, muitos de nós!
Começo por mim, por nós, os ex-árbitros comentadores de arbitragem. Somos irresponsáveis quando nos esquecemos no papel pedagógico que podemos e devemos ter na análise que fazemos das arbitragens. Opinar sobre determinado lance, qualquer um pode fazer. Esclarecer sobre as Leis de Jogo e ajudar a perceber as tomadas de decisão, certas ou erradas, de um árbitro, são uma obrigação que temos para com o Futebol.
Alguns presidentes dos clubes e SADs quando não respeitam a função que desempenham nem a história das instituições que representam. O líder de uma organização, seja ela qual for, nunca será respeitado se tiver um discurso populista, mal-educado, provocador, focado apenas em factores externos e ao sabor de resultados. Um líder que não seja respeitado, dificilmente alcançará o sucesso.
Alguns directores de comunicação dos clubes. Essas, actualmente, importantes personagens são a cara e a voz do descrédito do futebol português. Quando há casos, exponenciam-nos. Quando não há casos, criam-nos. “Vivem” dentro das redes sociais e dos canais dos seus clubes e, através do seu discurso, inflamam e descredibilizam tudo o que não seja da sua cor. Com isto descredibilizam-se a si e à sua função.
Os árbitros e a estrutura da arbitragem. Não pelos erros que cometem em campo, pois esses, embora indesejáveis, são naturais, mas pela falta de firmeza na luta contra o actual estado das coisas. Quando nos sentimos vítimas de algo e não fazemos nada para o deixar de ser, estamos a pactuar com os criminosos. Anunciar uma greve (que seria aos bochechos) e depois cancelá-la sem que nada tivesse efectivamente mudado, foi um tiro nos pés.
Alguns programas de televisão e jornais que se escudam atrás das vendas e das audiências para justificar os “conteúdos” que nos oferecem. Os bons programas de futebol têm audiências. Os bons artigos de futebol têm leitores. Ir pelo caminho mais fácil descredibiliza, não só o futebol, mas também os órgãos de comunicação social que não exigem a si próprios serem palco de credibilidade e seriedade.
Alguns adeptos (quero acreditar que são cada vez menos). Aqueles que aceitam consumir 90 minutos de jogo jogado e, depois, horas e horas de discussão sobre algo que está colado ao futebol, mas que nada tem a ver com ele. Esses adeptos estão a alimentar o descrédito do futebol. Esquecem-se que com o descrédito do futebol, vem o descrédito de qualquer vitória dos seus clubes.
As marcas. Aquelas que, por enquanto, ainda investem milhões de euros a patrocinar uma liga de futebol e os clubes que nela participam sem, aparentemente, exigir em troca a boa imagem daquilo que patrocinam.
Andamos todos doidos? Somos irresponsáveis? Estamos a matar o nosso desporto? Quem conseguir olhar de forma fria e desapaixonada para tudo o que se tem passado esta época, só pode responder que sim.
Eu nunca vou deixar de gostar de futebol. Eu nunca vou deixar de consumir futebol. A maior parte dos leitores é como eu. Mas atenção… há já toda uma geração que prefere encher um pavilhão para ver um jogo de futebol jogado numa consola por dois “craques” do PES ou do FIFA (videojogos de futebol) a ver um jogo real.
Sim, andamos doidos… E distraídos!