Um árbitro “estar para a jarra” é uma expressão que, já há muito, faz parte do léxico do futebol português. Podemos dizer que a “jarra” está para os árbitros como, muitas vezes, o “banco” ou o “estar encostado” está para os jogadores.
Com estas expressões pretendemos dizer que os atletas em causa (sim, os árbitros também são atletas) tiveram uma ou mais más prestações e que por isso foram “castigados”.
Serve isto para introduzir uma questão sobre a qual muitas vezes se fala e se clama: os castigos aos árbitros que têm maus desempenhos. Mais ainda, a divulgação desses castigos a árbitros pelas suas más arbitragens.
Voltemos ao paralelismo entre árbitros e jogadores.
Ambos fazem parte um plantel que vai sendo construído para oferecer soluções ao treinador de forma a cumprir os objetivos das respetivas equipas. Os clubes de futebol têm o início de época e a “janela de inverno” para contratar jogadores. Nem sempre conseguem detetar os melhores jovens valores e, muitas vezes, contratam jogadores que não cumprem aquilo que se esperava deles. A arbitragem tem mais limitações na escolha dos seus jogadores para cada época – tem número limitado de “vendas” e “aquisições” e apenas tem um período de transferências.
Estando o plantel fechado, os treinadores (no caso da arbitragem o treinador será o Conselho de Arbitragem da FPF) devem gerir o seu plantel. Escolher os jogadores que acredita estarem em melhor forma para os jogos nunca esquecendo que a ápoca é longa e que é preciso fazer uma gestão física e emocional dos mesmos. Isto é válido tanto para jogadores como para árbitros.
Acontece, felizmente cada vez menos, que quando um guarda-redes sofre um frango ou tem várias más exibições, perde a titularidade para o guarda-redes suplente. Vai, portanto, para o “banco”. Na arbitragem isso também acontece, infelizmente com mais frequência do que devia, pois quando um árbitro faz um mau trabalho o Conselho de Arbitragem não o nomeia no fim de semana seguinte ou, então, afasta-o durante algumas semanas dos jogos mais mediáticos e decisivos.
Se não é habitual nem expectável que um clube ou um treinador venha para os Media comunicar que determinado jogador fez um mau jogo e que por isso vai para o banco, fará sentido que esperemos que o Conselho de Arbitragem o faça relativamente a uma má exibição de um árbitro? Não. Para mim não faz.
E nem vale argumentar que quando um jogador é expulso é publicamente castigado. Também um árbitro, que tenha um comportamento incorreto e que viole os regulamentos, está sujeito a medidas disciplinares e sanções da mesma forma que um jogador (jogos de castigo).
Numa nota mais atual e relativa a um caso em particular, vejo muito negativamente que um jogador se sujeite à auto fragilização e humilhação de pedir dispensa depois de um mau jogo. Pior, considero inaceitável que um treinador ou um clube vejam um seu jogador ser atacado por tantos e não o venha defender publicamente. Não me refiro, naturalmente, a um futebolista, mas sim àquele que em teoria deveria ser olhado pelo Conselho de Arbitragem como um dos seus mais valiosos ativos – o internacional Fábio Veríssimo e toda a situação em que se viu envolvido depois da inegável má tarde que teve como VAR nas meias-finais da Taça da Liga.
Artigo de opinião publicado no Jornal Record em 6 de Fevereiro de 2019