O desporto, tanto (ou mais) do que a política ou o mundo empresarial, é uma das atividades que mais suscita questões relacionadas com “ética”. Algumas notícias recentes sublinham essa ideia, mas são muitos outros os exemplos que sustentam a teoria.
A expressão “ética” é bem mais antiga do que qualquer um de nós. É até mais velha do que o homem moderno e historicamente teve vários significados. O mais formal diz que é “o conjunto de padrões ou valores morais de um grupo ou indivíduo”.
Eu prefiro a definição informal do pensador brasileiro Mário Sérgio Cortella: “Ética são os valores que usamos para responder às grandes questões da vida: quero? Posso? Devo? Há coisas que eu quero mas não devo, há coisas que eu devo mas não posso e há coisas que eu posso mas não quero”.
A escolha que fazemos determina a nossa ética.
A vida é demasiado exigente para a maioria das pessoas, o que estrangula algumas das suas opções. A verdade é que nem sempre fazemos o que devemos, mas aquilo que precisamos. Não é bonito, às vezes é apenas necessário.
É (também) por isso que não faço juízos de valor sobre as opções dos outros. Posso concordar ou discordar, posso gostar ou detestar, mas cada um sabe de si.
No entanto confesso que sou um romântico nesta matéria. Acredito sinceramente que o valor da ética é o maior de todos, superior até ao da própria legalidade, algo definido, decidido e avaliado pelos homens.
A ética não é uma criação terrena, uma invenção exterior. É intrínseca. Vive connosco, em cada um de nós. Mora na nossa essência, está entranhada na nossa alma. É a vertigem das decisões que tomamos todos os dias. A ética faz parte de quem somos, é o que somos.
É por isso que respeito tremendamente quem, para seu sacrifício pessoal ou profissional, escolhe o que deve e não o que quer. Quem, tendo opção diferente, decide ficar do lado certo da barricada, mesmo que isso signifique perder muitas coisas boas e bonitas.
Felizmente a humanidade está cheia gente assim, capaz de viver e morrer como um exemplo. Essa forma de ser pode não distribuir riqueza material e pode até deixar alguns para trás, mas nas contas diárias com o travesseiro o sucesso, esse, está sempre garantido.
Era importante que esta reflexão se estendesse com mais frequência ao desporto.
A ambição desmedida pelo poder (ou pela sua manutenção), a luta imoral por mais e melhores posições, a guerra sem escrúpulos para chegar primeiro (de preferência a aniquilar a concorrência) pode até dar frutos a curto prazo, mas com o tempo perde valor e respeito. Perde dignidade.
Mais cedo ou mais tarde, vencem os que têm melhores princípios e valores. Os que fizeram as escolhas certas. E vencem sempre, mas quando parece que perdem.
A vida é só uma e esfuma-se a cada segundo que passa. Seria bom pensarmos mais nisso e menos no que vai ficar para os outros roerem.