Autor

Duarte Gomes

Data: 08/01/2021

Senti que passar dos relvados para os estúdios podia ser um salto demasiado arriscado

O convite para ser comentador desportivo no Grupo Impresa surgiu nos primeiros meses de 2016, pouco depois de ter terminado a minha carreira de árbitro de futebol. Recordo-me que o momento era difícil, como são todos os que coincidem com o fim de uma etapa à qual nos entregamos durante parte importante das nossas vidas.

Confesso-vos que hesitei. Hesitei e refleti sobre o desafio que o Alcides Vieira (então Diretor de Informação da SIC Notícias) me lançou.

Senti que passar dos relvados para os estúdios podia ser um salto demasiado arriscado. Não gostei das sensações interiores que a ideia então me transmitia.

Enquanto estive no ativo, fui sempre um crítico feroz de todas as pessoas que aparentavam sofrer de amnésia seletiva, analisando o trabalho do seus ex-pares com ironia e desdém, como que esquecendo que também elas estiveram daquele lado da barricada, a cometer os mesmos erros e fazer as mesmas coisas. Não queria ser apenas mais um a fazer o mesmo. Mais um a destilar frustração, ressabiamento e pequenez.

Mas sabia que um ex-árbitro que colaborasse com a imprensa jamais poderia escapar ao seu destino óbvio, que era o de entregar a sua experiência e know-how às novas funções.

A análise de lances de jogo é algo que é feito por cá e um pouco por todo o lado. É inevitável e obrigatória nos dias que correm, porque as decisões que os árbitros tomam em campo são parte muito relevante de um espetáculo que vale milhões e que tem mediatismo global. A minha grande dúvida era a saber como encontrar o ponto de equilíbrio perfeito.

Como iria gerir a linha que separava a análise técnica do eventual incentivo à polémica e ao ruído? Como iria abordar as várias decisões de arbitragem sem “matar” o decisor, aos olhos da opinião pública? Como iria ser bom profissional, sem aprofundar ainda mais o clima hostil em torno da classe?

Dúvidas e receios. Receios e dúvidas. Uma certeza: o projeto que agarrasse tinha que me permitir fazer mais do que o redundante. Tinha que me permitir acrescentar valor e ir bem além do “penálti, fora de jogo ou vermelho”. E a verdade é que permitiu.

Desde que ingressei na SIC e SIC Notícias participei em vários formatos: uns mais orientados para a discussão acalorada e emotiva de situações de jogo, outros de conteúdo mais didático e profilático. Realizámos e produzimos duas séries do programa “Ó Sr Árbitro” (filmado em todo o país), acompanhámos campeonatos europeus e mundiais, falámos sobre tecnologia, violência no desporto e ética, apontámos problemas pontuais, sugerimos soluções, debatemos, tentámos somar valor.

Concordámos e discordamos sempre no mesmo tom.

A SIC Notícias tem esta capacidade, a de fazer as coisas com caráter e a de permitir que se trabalhe com base nos melhores valores da vida. Quando as coisas fogem a esse padrão, muda. Reajusta. E recomeça, ainda mais forte e mais sábia.

Não é à toa que é o canal líder de audiências em share e em número de telespectadores. Desde sempre, mas sobretudo em 2020.

Sem prejuízo do que me reservar o futuro próximo, é e será sempre um prazer enorme fazer parte desta grande estação a que chamo de família. A minha segunda família.

Parabéns, SIC Notícias!! Que venham muitos mais aniversários, com o mesmo sucesso e na mesma linha.

Fonte: SIC Notícias