Autor

Duarte Gomes

Data: 18/12/2020

Sejamos decentes. Sejamos humanos.

O retrato patológico de um hater há muito que está traçado por especialistas em saúde mental: são criaturas infelizes que tendem a ficar afetadas com o êxito, mérito, conquista ou felicidade alheia. São personalidades perturbadas que necessitam avidamente de conflito. Essa postura bélica preenche, a espaços, o vazio enorme que encontram nas suas vidas.

Hater significa “aquele que odeia” ou “odiador”.

O termo está infelizmente muito na moda e percebe-se porquê. Nos dias que correm, marcado pelos excesso de canais e exposição ilimitada, aqueles que têm no ódio o seu sentido de vida proliferam como vento forte em incêndio.

São aliás uma espécie de tochas humanas, que só se sentem completos quando tentam anular a luz, energia e alegria dos outros. Aquela que, no fundo, nunca tiveram ou sentiram.

Regra geral, o que mais perturba um hater é o crescimento de outras pessoas. A ideia de imaginarem alguém feliz perturba-os, causa-lhes revolta interior. Desperta neles uma sensação de desconforto profundo, que depois manifesta-se de diversas formas. São eternos wannabees.

O retrato patológico de um hater há muito que está traçado por especialistas em saúde mental: são criaturas infelizes que, lá está, tendem a ficar afetadas com o êxito, mérito, conquista ou felicidade alheia. No seu lado mais íntimo, são personalidades perturbadas que necessitam avidamente de conflito. Essa postura bélica preenche, a espaços, o vazio enorme que encontram nas suas vidas.

Para que tudo faça sentido, precisam de colisão, choque e atrito permanentes. É como se o sucesso (ou a ideia que têm de sucesso) de alguém fosse uma espécie de borbulha na ponta do seu nariz: sentem compulsão em espremer e espremem até rebentar.

O hater não fala, briga. Não conversa, discute. Não ouve, aguarda em silêncio a sua vez de ripostar.

Tentar atingir terceiros atenua-lhes a dor de saberem que não têm expressão aos olhos daqueles.

O hater está tão focado em destruir que raramente tem noção da imagem que projeta para os outros. Com ele, não há contraditório. O rebate, a resposta ao seu ataque é encarada como um declaração de guerra. Uma afronta à sua linha de pensamento. Geralmente vê na diversidade de pensamento e de opinião um ataque pessoal.

O hater é orgulhoso e narcisista. Gosta demasiado de si para se permitir gostar dos outros. Se pudesse viver num mundo perfeito, escolheria um em que só existissem espelhos. Espelhos virados para si. Para o seu ego. Para a sua alma sofrida. Para a sua pequenez ilimitada.

É importante sublinhar que esta forma de ser, de estar e viver, não é voluntária. O hater não tem culpa de ser assim, doente. E não tem culpa de ficar infeliz com a felicidade dos outros. Essa realidade perturbada, distorcida e enciumada, é a única que conhece.

O mundo de hoje está cheio de pessoas assim, que só se sentem grandes quando tentam diminuir o próximo. É um problema sério que deve merecer, de todos nós, uma atitude de tolerância e compreensão.

Temos que lhes dar a mão e responder, em silêncio ou com um sorriso tolerante, às suas investidas. Temos que os ajudar a não cair no precipício. Mais do que medicação ou aconselhamento profissional, pessoas assim merecem o nosso abraço apertado. A nossa caridade.

O facto de muitos nós vivermos com paz interior, harmonia e felicidade não nos dá o direito de apontar o dedo a quem jamais saíu da sombra. Pelo contrário.

Sejamos decentes. Sejamos humanos.
Caramba.

Fonte: SIC Notícias