“Sandra Bastos vai ser a primeira árbitra portuguesa num Mundial de Futebol”. Foi à volta desta frase que quase todos os meios de comunicação social construíram ontem os títulos para noticiar a nomeação da Sandra para o Mundial de futebol feminino que se vai realizar em Junho/Julho de 2019 em França.
A nomeação da Sandra é o reconhecimento do crescimento do futebol feminino em Portugal. É o culminar de um investimento que tem vindo a ser feito na arbitragem feminina. E é um prémio para todas as árbitras portuguesas. Muitos merecem louvores por esta conquista, é verdade, mas permitam-me que ponha o foco em quem verdadeiramente o merece e que vos fale, muito brevemente, sobre pessoa que conquistou este título
A Sandra é uma miúda de 40 anos de uma terra chamada Lobão em Santa Maria da Feira. Chamo-lhe de miúda para me sentir mais novo (somos da mesma idade), mas principalmente porque continua com o mesmo espírito e juventude que tinha quando a conheci, há 15 anos atrás (2003), num curso de árbitros da FPF. Nessa altura os objetivos de vida dela estavam bem definidos e eram “simples”: ser árbitra internacional e estar num mundial de futebol.
Em 2001, com 23 anos, esta miúda humilde e até envergonhada apaixonou-se e, sem pensar muito, casou de imediato. Nos últimos 17 anos tem vivido esse casamento de forma intensa, às vezes demais, mas sempre focada em fazer resultar a relação. Casou-se com a arbitragem e é por isso vai estar no Mundial de 2019.
Vai porque abdicou da progressão profissional, e consequentemente de poder ter mais retorno financeiro, para ter mais tempo para se dedicar aos treinos e ao estudo das Leis de Jogo. Vai porque, quando as amigas e amigos iam sair à noite ao fim de semana, ela ficava em casa a descansar para, no dia seguinte, apitar 2 jogos de miúdos numa manhã e à tarde dirigir um jogo de futebol feminino numa altura em que pouco futebol havia nesses jogos. Vai porque treinou tanto que chegou a ser proibida, pelos médicos, de treinar por estar em over training. Competiu com homens, sabendo que dificilmente poderia ganhar, apenas para poder crescer como árbitra. Prejudicou relações amorosas. E adiou, até ver, o desejo de ser mãe.
Sandra, foram muitos sacrifícios, mas hoje és “a primeira portuguesa num Mundial de Futebol”. É um título que nunca mais ninguém terá. É teu para sempre. Sei que não é pelo facto de o teres conquistado que vais abrandar nas tuas ambições ou na tua forma de te dedicares à arbitragem. Mas este, já ninguém to tira. E este fez com que tudo valesse a pena, certo? Parabéns. Portugal tem muito orgulho em ti.