O futuro da arbitragem e do futebol não poderia escapar aos avanços da tecnologia. A bem do “desporto futebol” era imperativo que a as Leis de Jogo acompanhassem a evolução do “espectáculo futebol”. Assim surgiu o vídeo-árbitro.
Começo por recordar (tanto se tem falado do assunto que já todos somos experts na matéria) que este recurso só vai ser utilizado em situações muito específicas e decisivas, como a validação de golos, situações de pontapés de penálti, situações de cartões vermelhos e possíveis erros na identificação de jogadores castigados.
É já na próxima época que vamos ter essa histórica alteração nas Leis de Jogo em prática nas competições profissionais em Portugal. Mais uma vez, estaremos na vanguarda da arbitragem mundial. Mas… estará Portugal preparado?
Os árbitros não estão preparados!
Apenas cerca de 20% dos árbitros do actual quadro de primeira categoria tiveram, alguma vez, contacto com este sistema. Dos árbitros que vierem a integrar o “quadro” de vídeo-árbitros, provavelmente, apenas 2 ou 3, se tanto, estiveram envolvidos nesta função ou nas experiências que já aconteceram.
O sistema já foi largamente testado a nível internacional e também a nível nacional… mas aqueles que o irão implementar, os executantes, não o testaram, não o experimentaram, não estarão, definitivamente, treinados para a função…
Os adeptos não estão preparados!
O vídeo-árbitro não é, nem de perto nem de longe, a cura para os erros de arbitragem. Apenas em situações muito específicas e claras, repito, claras, é que o vídeo-árbitro irá intervir. As mãos do Pizzi continuarão a ser discutidas no pós-jogo porque o vídeo-árbitro irá manter-se “calado” nessa situação. As quedas do André Silva, do Jonas ou do Gelson na área continuarão a ser motivo de debate porque, na maior parte vezes, o vídeo-árbitro não irá considerar óbvio e claro que o motivo da queda tenha sido aquele pequeno contacto do adversário e, por isso, ficará em silêncio.
Os silêncios do vídeo-árbitro serão, a partir da próxima época, mais um motivo para discussões. Para não dizer, suspeições e pressões.
Clarifico: sou favorável à introdução do vídeo-árbitro.
Discordo, apenas, da forma repentina e, aparentemente, sem estratégia definida como este Conselho de Arbitragem anunciou esta importante alteração já a partir da próxima época. Entendo que todos os árbitros envolvidos deveriam já ter experienciado e treinado este sistema. Há tantos campeonatos de camadas jovens que poderiam ter servido para o efeito…
Não percebo ainda o entusiasmo com que parte dos meus colegas árbitros está a encarar esta situação, querendo lançar comunicados a saudar tal decisão.
As agressões, pressões e intimidações que têm acontecido na arbitragem portuguesa não mereceram, por parte dos árbitros, tão rápida actuação. Também o facto de uma equipa de arbitragem treinar de forma separada (árbitros durante a tarde em polos profissionais e os seus árbitros assistentes ao final do dia com outros treinadores e colegas do futebol amador) nunca mereceu comunicados ou grandes trocas de emails entre os intervenientes.
Mesmo com tantas lacunas e tendo tanto por onde melhorar, a arbitragem portuguesa é das melhores do mundo. Os nossos árbitros são dos melhores do mundo. Espero que o facto de querermos, mais uma vez, começar a casa pelo tecto não prejudique o futuro dos nossos árbitros e, consequentemente, do nosso futebol.