Autor

Jorge Faustino

Data: 21/02/2017

Pensar arbitragem

Jorge Sousa e Artur Soares Dias são os árbitros internacionais portugueses melhor cotados junto dos organismos que gerem a arbitragem mundial. Soares Dias está, inclusivamente, na lista de pré-nomeados da FIFA para o Mundial de 2018 na Rússia.

No final da passada semana estiveram no Médio Oriente, a convite das federações de futebol do Qatar e da Arábia Saudita, a dirigir importantes jogos das respectivas ligas. Pelas críticas que a comunicação social local lhes fez, estiveram em bom plano.

Por cá criticou-se o facto de o Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol não saber gerir devidamente os seus recursos humanos dispensando aqueles que são os seus melhores activos para campeonatos da “terceira divisão mundo do futebol” ao invés de os nomear para um qualquer importante jogo da jornada.

As nomeações das equipas de arbitragem, que todos os fins-de-semana dirigem os jogos das nossas ligas, são uma das funções e responsabilidades mais óbvias e visíveis de um Conselho de Arbitragem. Existem outras de médio e longo prazo mas o escrutínio e a avaliação a essas nomeações é, normalmente, feito a olhar para o curto prazo e, quase sempre, sem saber do estado emocional e motivacional de cada um dos elementos do plantel que o CA tem à sua disposição.

Pensar e gerir arbitragem é algo mais complicado do que olhar à distância de um jogo ou uma jornada. É, naturalmente, necessário pensar a curto prazo – nomear árbitros para a próxima jornada. Mas é tão ou mais importante pensar a médio prazo – gerir as nomeações olhando para as restantes jornadas e outras competições nacionais até final da época. E é, ainda, fundamental pensar a longo prazo – criar condições para colocar árbitros portugueses nas grandes competições internacionais.

Pensando arbitragem, pergunto: Seria uma medida inteligente de um gestor de recursos humanos, entenda-se Conselho de Arbitragem, privar um seu colaborador de uma experiência enriquecedora (a todos os níveis…) e depois exigir ou esperar que este esteja motivado para fazer o seu trabalho regular?

Pensando arbitragem, esclareço: Jorge Sousa apitou no Qatar na quinta-feira, como tantas vezes faz em jogos da Liga Europa, e estava de regresso a Portugal na sexta-feira. Caso o Conselho de Arbitragem quisesse, poderia tê-lo nomeado para um qualquer jogo de domingo. Entendeu não o fazer.

Pensando arbitragem, opino (sobre os dois parágrafos anteriores): vem aí a fase mais crítica da época e com os jogos mais decisivos. Jorge Sousa e Artur Soares Dias são, seguramente, os árbitros que o Conselho de Arbitragem precisa manter afastados de possíveis polémicas para poder ter opções na altura, e à altura, dos grandes clássicos e dos jogos mais quentes que ainda vão acontecer até final do campeonato. Parece-me, neste sentido, correta a opção de ir poupando a sua exposição aos holofotes de alguns jogos.

Pensando arbitragem, partilho uma curiosidade: Hani Ballan, CEO da Qatar Stars League, entidade que gere as competições profissionais de futebol no Qatar e que terá pedido um árbitro estrangeiro para o importante jogo Al-Sadd vs Al-Arabi, viu garantidamente a excelente arbitragem que Jorge Sousa fez na direcção desse jogo. A curiosidade, ou o importante detalhe, é que para além de ser o CEO da Liga do Qatar, Hani Taleb Ballan foi árbitro internacional e é, actualmente, um dos dez elementos do “todo poderoso” Comité de Arbitragem da FIFA. Curiosidade interessante para quem pensa arbitragem, não?

Sentindo a arbitragem e o futebol: fico orgulhoso pelos desempenhos que Jorge Sousa, Artur Soares Dias e os árbitros assistentes de ambos conseguiram ter. Mais uma vez elevaram a imagem da nossa arbitragem e do nosso futebol no panorama internacional.

Fonte: Público