Autor

Jorge Faustino

Data: 11/04/2017

Penáltis e agressões

Há duas semanas atrás, o conselho de arbitragem da FPF comunicou que, até final da temporada, para os jogos dos candidatos ao título, apenas seriam nomeados árbitros internacionais, com a possibilidade de juntar a este lote o experiente Nuno Almeida. O assumir deste compromisso na gestão das nomeações terá tido por objectivo garantir e assegurar aos clubes envolvidos que os árbitros para os seus jogos serão sempre, em teoria, os melhores.

Carlos Xistra, no Porto – Benfica da passada semana, mostrou que a qualidade da nossa arbitragem não se limita aos dois do costume. Os dois do costume, Jorge Sousa e Artur Soares Dias, com Xistra e Hugo Miguel estão naturalmente “guardados” para os jogos teoricamente mais complicados (Braga – Porto, Sporting – Benfica, Benfica – Vitória).
Foi, por isso, com naturalidade que vimos Fábio Veríssimo e Tiago Martins serem, nesta última jornada, indicados para os jogos do Porto e Benfica, respectivamente. Ambos, na minha opinião, excelentes árbitros e com brilhante futuro pela frente. Ambos, e isso é opinião generalizada, com actuações menos conseguidas nos respectivos jogos.

Fábio Veríssimo, no Porto – Belenenses, teve decisões difíceis para tomar. Três delas na área do Belenenses. Acertou em duas. Infelizmente, no que toca a lances de pontapé de penálti, não basta acertar a maioria. É necessário acertar em todos.

Tiago Martins, no Moreirense – Benfica, não pecou tanto pelas decisões técnicas mas sim pelas opções disciplinares. Luisão cometeu falta grosseira sobre Boateng, carregou o seu adversário pelas costas, com a sola da bota, no tendão de Aquiles e com alta velocidade e perigosidade para a integridade física deste. A rapidez do lance não terá permitido ao Tiago ter a verdadeira noção da gravidade do lance e, talvez por isso, apenas tenha advertido o central benfiquista. Com vídeo-árbitro (VAR) a decisão teria sido outra.
Também Samaris escapou à expulsão, aproveitou um aglomerado de jogadores para agredir a murro um adversário. Ninguém da equipa de arbitragem viu. Samaris ficou em campo. Com VAR a decisão teria sido outra.
Dramé, jogador do Moreirense, também escapou à expulsão por acumulação de amarelos. O árbitro viu o lance, assinalou a falta e decidiu não advertir o jogador. Com VAR não iria haver qualquer intervenção deste. Dramé continuaria em campo. O actual protocolo do VAR não prevê a sua intervenção em situações de segundo amarelo. Veremos se no futuro irá “evoluir” para abranger também esta situação.

Ainda as agressões. Aliás, outra vez as agressões.

Agressões a árbitros têm sido recorrentes, mas nunca poderão ser consideradas normais. Assim, sinto-me na obrigação de usar também este espaço para dar a conhecer estas tristes situações. Este fim-de semana foram três: em Viana do Castelo, num jogo das meia-finais da taça de futsal desta associação, um jogador terá agredido o árbitro. Na mesma associação, um jogo do campeonato distrital de futebol foi interrompido aos 72 minutos depois do árbitro ter sido empurrado e ameaçado por um jogador. O terceiro caso que tive conhecimento aconteceu no Campeonato Nacional de Seniores – Fase Subida, no jogo Fátima – Torreense, onde um adepto no final da partida invadiu o terreno para agredir o árbitro. Episódios tristes e que nos devem envergonhar a todos.

Esta época são já quase 50 o número de casos que envolvem agressões a árbitros. E aqui estão apenas incluídos aqueles que são de conhecimento da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol. Todas as situações em que os árbitros não tenham pedido apoio judiciário à sua associação de classe, não estão incluídas neste número. É um quadro demasiado grave para um país dito de primeiro mundo!

Fonte: Público