Continuamos a não saber aproveitar a qualidade do nosso talento, a riqueza das nossas condições e o exemplo maior das nossas referências. Perdemo-nos em fait divers que sendo o ópio do povo, desviam o foco do que é realmente importante: pacificar, apresentar soluções e construir caminhos comuns. A visão da parte tem que dar lugar à visão do todo, para que coisas boas aconteçam.
FACTO 1
De uma forma geral, há acertos e erros de arbitragem em todos os jogos. Isso acontece agora, quando eu arbitrava e bem antes disso. Acontecerá sempre. Para que conste, os árbitros tomam, em média, entre 250 a 300 decisões por jogo. Acertam em mais de 97%. Está provado e comprovado.
FACTO 2
Os restantes intervenientes diretos no jogo (jogadores e treinadores) também tomam boas e más decisões. Tal como os árbitros, acertam mais do que erram, mas também erram.
FACTO 3
De um modo geral, as equipas que vencem os seus jogos, vencem merecidamente. Com justiça, com verdade desportiva. Superam o número de variáveis que não controlam, sendo muito boas nas que dependem do seu treino, trabalho e compromisso.
FACTO 4
Todas as outras individualidades com intervenção indireta no jogo (adeptos, dirigentes, jornalistas e comentadores) não escapam às regras dos factos 1 e 2: acertam e erram. Fazem coisas boas e coisas menos boas. Cumprem e falham.
FACTO 5
O futebol é um jogo que criado para entreter pessoas. E é arbitrado, jogado, dirigido, aplaudido e analisado por pessoas. Não tem um único agente envolvido que escape a essa condição. A da sua humanidade.
FACTO 6
O “Projeto Videoárbitro”, aplicável na nossa Primeira Liga e em muitos outros campeonatos europeus, é uma mais valia inegável para o espaço. Apesar de falhas associadas ao seu desempenho, tem contribuído muito mais para a verdade desportiva do que para o oposto. Está provado e mais que provado. É dado adquirido.
FACTO 7
A crítica é uma importante ferramenta de aprendizagem para todos aqueles que estão no futebol, desde que saibam filtrar irrelevante de essencial. Todos os seus agentes (todos sem exceção) estão sujeitos a ela, uns de uma forma, outros de outra. É dano colateral de ser parte integrante de uma montra apetecível, mediática e profundamente escrutinada.
FACTO 8
Continuamos a não saber aproveitar a qualidade do nosso talento, a riqueza das nossas condições e o exemplo maior das nossas referências. Perdemo-nos em fait divers que sendo o ópio do povo, desviam o foco do que é realmente importante: pacificar, apresentar soluções e construir caminhos comuns. A visão da parte tem que dar lugar à visão do todo, para que coisas boas aconteçam.
FACTO 9
A constatação do ponto anterior existe desde que o jogo evoluiu para espectáculo potencialmente lucrativo. O facto de movimentar anualmente centenas de milhões de euros e de empregar gente muito diferente entre si, gera sentimentos que nem sempre correspondem àquilo que a indústria mais precisa.
FACTO 10
Há esperança que as coisas possam ser melhores. É preciso diálogo comum, coragem, transparência, disponibilidade para fazer cedências e foco naquilo que é determinante. Quanto mais valiosa forem essas componentes, mais o jogo crescerá. Assim exista vontade, seriedade e determinação.