Inauguro este espaço de opinião naquela que é a minha segunda época de colaboração com o jornal Record. Serão 2500 caracteres por semana onde procurarei ir para além do simples escrutínio de lances ou arbitragens. Deixarei os carimbos de “decisão correta” ou “decisão errada” para os 200 caracteres de que disponho na avaliação de cada lance que vou fazendo nas análises dos jogos dos três primeiros classificados da época passada.
Naturalmente que não irei fugir a uma análise mais profunda de alguns lances. Antes, irei utilizar alguns desses ditos “casos” para procurar esclarecer o leitor sobre questões relacionadas com as Leis de Jogo (letra e espírito da Lei) e a sua interpretação.
Sou árbitro há cerca de 23 anos. Escrevo “sou” para clarificar que, apesar de ter deixado de estar no ativo há 3 anos, contínuo a ser árbitro. Continuo a viver e a defender a arbitragem. E que não se confunda isto com corporativismo ou cegueira em defesa dos árbitros. Sentir-me parte de algo não me impede identificar e apontar erros. Responsabiliza-me, no entanto, para tentar explicar o que pode ter provocado esses erros e qual seria a decisão correta. Sentir-me parte de algo não me impede criticar o que merece ser criticado. Mas, de novo, obriga-me a não o fazer sem procurar acompanhar essa critica com algum tipo de solução.
A primeira jornada da nossa liga foi exemplo claro do que vai ser o resto da época.
Umas equipas ganharam e outras perderam. Houve vitórias merecidas e outras caídas do céu. Até aconteceram empates… Tivemos jogadores a falhar pontapés de penálti. Jogadores a marcar golos espetaculares. Treinadores com decisões infelizes e outros que, com uma substituição, ganharam o jogo. Vimos arbitragens praticamente sem falhas. E, como sempre e desde sempre, tivemos arbitragens menos felizes: erros dos árbitros; erros dos árbitros assistentes; ausência de intervenção do videoárbitro quando se esperava que este não ficasse calado.
Tudo isto é normal no futebol e, acreditem, todos estes intervenientes do espetáculo, tenham estado bem ou menos bem, querem melhorar as suas performances. Os que menos podem errar, são os árbitros. A tolerância perante os seus erros é praticamente zero. Eles sabem disso e trabalham muito para não terem de enfrentar o fantasma do erro no dia seguinte ao jogo.
O que não é normal? Os fantasmas criados pelas comunicações dos clubes que “batem” nos erros que aconteceram, nos erros que dá jeito inventar e nas suspeições que decidem lançar. Esperemos que, neste capítulo, esta primeira jornada não tenha sido representativa do que vai ser o resto da época. Sejamos inocentes e acreditemos nisto. Porque estes fantasmas, não fazem parte da fita…
Artigo publicado na Edição do Jornal Record de 15Ago2018
PS: Convido a ver esta reportagem da FPF: