Todos os anos, por esta altura, se ouve falar de possíveis alterações que as Leis de Jogo vão sofrer. Normalmente, aquelas que mais se destacam, são as que não acontecem a curto prazo e que ficam para anos seguintes. O International Board é um organismo tendencialmente conservador, que por norma evita ou adia mudanças drásticas nas Leis de Jogo. O videoárbitro começou a ser falado e estudado há cerca de 20 anos e apenas esta época entrou formalmente nas Leis.
Este ano fala-se em terminar com as recargas nos pontapés de penálti (se um jogador falha, independentemente de falhar baliza ou guarda-redes defender, recomeça sempre com pontapé de baliza). Eliminar a palavra “deliberadamente” da infração “quando um jogador toca deliberadamente na bola com a mão”, limitando-se o critério de sanção de mãos apenas à análise de se o jogador tinha os braços em posição natural ou não. Para tornar o jogo mais rápido pondera-se parar o cronómetro para evitar perdas de tempo e passar a obrigar os jogadores substituídos a sair do terreno de jogo pelo local mais próximo.
O mais provável é que nenhuma destas propostas avance já na próxima época, ou até nas seguintes… Talvez possa avançar a que defende que um jogador substituído tenha de sair pelo local mais próximo, mas mesmo esta, é improvável que seja aplicada já em 2019/2020.
Independentemente das alterações que as Leis de Jogo sofram, e têm sofrido muitas e importantes nos últimos anos, há questões e discussões que não vão desaparecer.
A queda de Soares na área do Marítimo, que resultou em penálti favorável ao FC Porto, foi causada por contacto provocado pelo defesa maritimista? Terá sido Soares que escorregou? Ou terá o atacante aproveitado o contacto para se deixar cair? Na minha opinião, e na de alguns ex-árbitros comentadores, Soares sentiu o contacto e caiu. Penálti mal sancionado. Na opinião de Carlos Xistra, e de alguns outros ex-árbitros comentadores, foi o defesa que terá agarrado o atacante. Falta clara que justificou o assinalar de pontapé de penálti. E é isto que nunca vai mudar no futebol: as diferentes opiniões sobre um determinado lance.
As opiniões diferentes podem ser motivadas por experiências diferentes, ângulos de análise diferentes, contextos emocionais diferentes ou até por “clubites agudas”. As opiniões diferentes fazem parte do futebol. Fazem parte da vida para além do futebol. Não há alterações às Leis que alguma vez façam desaparecer esta realidade. Podem atenuar, definindo critérios mais objetivos, mas haverá sempre uma carga de subjetividade nas análises. E essa subjetividade e incerteza é o que nos faz gostar deste desporto.
De tantos lances polémicos que aconteceram esta jornada abordei apenas o lance do Soares para explicar que, apesar de ser da opinião de que não houve infração, percebo perfeitamente a opinião e decisão do Carlos Xistra em assinalar pontapé de penálti considerando aquilo que terá visto. Apenas as repetições me levaram a considerar que não era penálti. Também percebo e concordo com a não intervenção do videoárbitro a sugerir alteração da decisão inicial (lance demasiado subjetivo para se poder afirmar que era um erro claro e óbvio).
Não concordar com uma decisão, não deve implicar que consigamos perceber as suas causas e, no limite, que conseguimos aceitar essa opinião diferente da nossa.