Aproveitando a paragem nas competições, o Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol convocou os árbitros de futebol profissional para algumas reuniões presenciais.
Ao contrário do que foi vendido por alguma imprensa, a iniciativa não foi inédita nem quis colocar os árbitros numa espécie de forca, como se estivessem prestes a serem executados em praça pública. Compreende-se a retórica orientada para a notícia que quer ser sensação, mas a verdade é outra.
Este tipo de sessões acontecem frequentemente, em vários momentos e este não foi exceção. Regra geral, a oportunidade surge em alturas como esta, em que as provas nacionais estão interrompidas, porque isso permite a todos marcar presença sem a indisponibilidade que estágios, viagens e jogos tantas vezes acarreta.
Quanto aos temas debatidos, são sempre variados, mas geralmente passam por um balanço do que foi feito até à data e por uma análise atenta ao que deve ser mantido (nalguns casos) ou corrigido (noutros).
Neste caso, não será descabido deduzir que a questão relativa aos tempos de compensação possa ter merecido especial atenção, porque é notória a necessidade de se equilibrarem padrões e evitar excessos.
Também algumas desatenções graves em sala (situações objetivas, em que a tecnologia impede factualmente a existência de erro) devem ter sido abordadas, porque a este nível essas falhas são inadmissíveis. Já chegam as que resultam da análise de lances dúbios e subjetivos.
Os nossos árbitros “profissionais”, teoricamente os melhores do país, sabem que têm uma função difícil, com forte atenção mediática e um passado desportiva passado a pente fino. A pressão que carregam todos os dias é difícil de gerir, mas a verdade é que a arbitragem não é uma função imposta. É árbitro quem quer e fica na arbitragem quem quer e deseja.
Para se manterem a este nível, os árbitros de topo sabem que é necessária uma personalidade forte e uma capacidade superlativa para lidar com situações adversas.
Em troca desse sacrifício (tantas vezes pessoal e familiar), a arbitragem oferece uma carreira apelativa, com retornos pessoais e financeiros bastante apreciáveis.
Por isso, quando têm o privilégio de entrar em campo ou em sala para dirigem jogos de elite, as equipas de arbitragem devem saber ao que vão. Devem perceber que naquela hora e meia de trabalho não há lugar para desconcentrações, ligeirezas ou facilitismos. É dar tudo por tudo, sem poupanças nem receios.
Árbitros, árbitros assistentes e vídeo árbitros estão obrigados a perceber o peso da responsabilidade que carregam em cada jogo que arbitram. Estão obrigados a perceber a importância que a sua ação ou omissão tem na obtenção da verdade desportiva.
Quem se esquecer que as coisas têm que ser assim, quem achar que arbitrar é apenas mais uma tarefa para cumprir ou um negócio para concretizar, está na profissão errada.
No fundo, o que se deseja é que a resposta dentro das quatro linhas seja proporcional às condições que usufruem fora delas.
Não esqueçamos que, apesar de ainda estarmos longe do cenário ideal, a arbitragem de hoje tem meios e condições muito interessantes, que lhes permite evoluir de forma gradual e consistente. Tem também uma retribuição mensal francamente superior à da média nacional.
É justo exigir-lhes o máximo e nunca menos do que isso. A eles, a quem os dirige e lidera, a quem os prepara e treina.
O pior que pode acontecer é serem os próprios a por-se a jeito de gente sedenta de os apanhar na curva.