Começou o futebol jogado dentro de campo. Na primeira jornada, que decorreu durante toda a semana, aconteceram bons jogos de futebol, emoção e muitos golos.
Infelizmente, a guerrilha da informação e da contrainformação à volta do futebol continuou após um verão pleno de provocações, acusações e suspeições. Confirma-se que futebol jogado dentro de campo não vai acalmar o ambiente à volta de si mesmo. O projecto videoárbitro (VAR) parece vir servir como mais uma pedra para atirar nas discussões irracionais de quem tem a obrigação de olhar para o futebol com racionalidade: aqueles que nele estão de forma profissional.
Quero recordar que o VAR surge no futebol com o grande objectivo de evitar que decisões claramente erradas em lances cruciais do jogo manchem a verdade desse jogo. O VAR irá intervir quando, nas imagens que tem ao seu dispor, descortinar um erro claro. A pergunta do VAR será sempre “a decisão tomada foi um erro claro?” e, nunca, “terá a decisão sido correcta?”.
Utilizando alguns lances desta jornada (a falta de espaço não permite que aqui analise todos os lances que geraram controvérsia) vou tentar esclarecer o que o International Board entende como “erro claro” no projecto VAR.
No estádio da Luz foram anulados, por fora-de-jogo, dois golos ao Braga. No primeiro, as imagens mostraram claramente que o atacante tinha a cabeça adiantada relativamente ao tronco do penúltimo adversário. Excelente decisão do árbitro assistente. O VAR, a intervir, tê-lo-á feito apenas para suportar a decisão e “descansar” a inquietação do assistente que, tendo decidido em consciência, sabe que está sujeito ao erro e que, portanto, poderia ter decidido mal.
O segundo golo anulado foi o que mais discussão originou. As imagens mostram que há a possibilidade de um pé de Seferovic, que não aparece na imagem, estar a colocar o jogador do Braga em jogo. Estas imagens dão garantia de que a decisão foi correcta? Não! Mas, como acima escrevi, a pergunta que o VAR se faz, deverá ser: “as imagens provam que houve um erro claro?”. Por muita desconfiança que possamos ter de que o pé do jogador do Benfica esteja a colocar Ricardo Horta em jogo, este não aparece nas imagens. Não passa disso mesmo, uma desconfiança. Por essa razão, objectiva, não podemos assegurar que a decisão está errada. Nestas condições o VAR não pode nem deve intervir.
No mesmo jogo aconteceu um outro caso que fez com que muitos pedissem intervenção do VAR. Jardel caiu na área em lance com Vukcevic. Carlos Xistra nada assinalou e o VAR, aparentemente, não interveio.
Existem imagens que nos mostram um braço de Vukcevic nas costas de Jardel… Verdade! Não existem imagens esclarecedoras que nos garantam que Jardel não estava, também ele, a agarrar o seu adversário… Verdade, não existem! Há opiniões que defendem que Jardel foi empurrado… Pode ter sido! Outros dizem que Jardel iniciou o contacto com o seu adversário, empurrando-o… Também pode ter acontecido!
Recordo a pergunta “há imagens que garantam que tenha havido um erro claro?”. A resposta terá de ser “não”. Não digo que os que defendem que houve falta para penálti estejam errados. Podem, eventualmente, ter razão. O que não houve, certamente, é a garantia de que foi uma decisão errada. Assim, com estas questões de interpretação envolvidas, o VAR não deve suscitar uma revisão.
Nota: Decisão histórica para o VAR em Portugal na validação que fez do golo do Porto ao Estoril. Excelente exemplo do que é um erro claro revisto e corrigido pelo VAR.