Autor

Jorge Faustino

Data: 17/04/2018

Decidir quase sempre bem…

Na jornada do “jogo do título”, aconteceu uma outra partida muito mais interessante do ponto de vista de análise técnica de arbitragem. O Belenenses – Sporting foi, seguramente, um dos jogos exigentes da época.

Antes de analisar essa partida, e porque o Benfica – Porto está ainda muito presente na actualidade desportiva, deixo duas notas sobre este jogo.

Nomeação de Artur Soares Dias

Independentemente da opinião que tenhamos sobre o trabalho do internacional do Porto realizou, a sua nomeação é inatacável. É um dos dois árbitros portuguesas mais bem cotados internacionalmente, é experiente, respeitado pelos intervenientes e vai estar fora de Portugal, num curso para videoárbitros do Mundial da Rússia, até final do mês. Esta ausência nos próximos tempos inviabiliza a sua utilização noutros jogos de importância, nomeadamente os clássicos que ainda vão acontecer. Ao nomear Artur Soares Dias para o Benfica – Porto, o Conselho de Arbitragem ficou com árbitros como Jorge Sousa, Carlos Xistra e Hugo Miguel em carteira para esses jogos também eles decisivos.

Arbitragem do clássico

Artur Soares Dias não apitou este jogo, geriu-o. Quero com isto dizer que, não tendo sido uma arbitragem isenta de erros, foi uma partida muito inteligentemente (leiam esta palavra pela positiva) gerida do ponto de vista emocional e técnico. Artur Soares Dias deixou jogar quanto baste, apertou disciplinarmente quando se justificou e teve também a sorte de ter poucos lances “cinzentos” para avaliar. O único lance cinzento importante aconteceu ao minuto 92 e é um lance susceptível de várias interpretações. Dou o benefício da dúvida à decisão de não assinalar pontapé de pénalti. Daria ao mesmo benefício se a decisão fosse contrária. Há lances assim…

Como acima referi, o Belenenses – Sporting, dirigido por Bruno Paixão, foi rico em situações de difícil análise. Destaco alguns desses lances:

Logo ao terceiro minuto foi assinalado pontapé de pénalti favorável ao Belenenses por falta de Rui Patrício sobre Yazalde. Lance invulgar onde o atacante se conseguiu antecipar de cabeça ao guarda-redes que, chegando atrasado, apenas acertou com a mão na cara de Yazalde dando-lhe uma chapada imprudente. Rui Patrício não tinha intenção de cometer qualquer falta, mas fê-lo. Esteve bem o videoárbitro ao detectar a infracção e Bruno Paixão ao assinalar o pénalti após rever as imagens.

Lance importante no jogo e com três momentos de análise, aconteceu no terceiro golo do Sporting, aos 41 minutos. Acuña, que marcou o golo, estava em linha com adversário no momento do cruzamento. Bas Dost, que participou no lance, também estava em linha com um adversário. Sem infracção também aqui. O golo deveria, no entanto, ter sido anulado porque no início da jogada, Ristovski dominou a bola, de forma deliberada, com o seu braço. A equipa de arbitragem, videoárbitro incluído, não detectou a infracção.

Aos 67 minutos Acuña carregou Licá pelas costas provocando a sua queda. Bruno Paixão decidiu correctamente ao assinalar pontapé de pénalti. Licá, isolado frente a Rui Patrício, seguia em clara oportunidade de golo e porque a falta não foi feita na tentativa de jogar a bola, o jogador do Sporting deveria ter sido expulso neste lance. Videoárbitro poderia ter ajudado o árbitro.

Aos 72 minutos, novo lance de penálti, agora na área do Belenenses. Yebda, na disputa para cabecear a bola, acertou de forma negligente com o seu braço esquerdo na cara de Bas Dost. Penálti difícil de detectar em campo. Foi fundamental a intervenção do videoárbitro para que Bruno Paixão acabasse por tomar a decisão correcta: assinalar pontapé de pénalti e exibir o cartão amarelo (segundo) a Yebda.

Já nos descontos, aos 93 minutos, golo anulado ao Sporting por fora de jogo de Ristovski antes de cruzar a bola para Acuña. Bem o árbitro assistente na avaliação da posição ilegal do lateral do Sporting.

A vida de um árbitro, um pouco à imagem do que acontece com os guarda-redes, não é ser celebrado pelas muitas boas decisões que toma. É ver o seu trabalho marcado/manchado por uma decisão menos boa. Bruno Paixão, neste jogo, decidiu muitas vezes, muito bem. Falhou em dois lances decisivos para o jogo. Infelizmente, decidir quase sempre bem, não chega.