Autor

Jorge Faustino

Data: 31/10/2017

Casos, tweets, posts, comentadores e… o meu pai.

Mais um fim-de-semana complicado para o futebol português…

Posso dedicar parte deste artigo a falar dos muitos casos de arbitragem desta jornada:

O golo do Bas Dost. Posso dizer que sei que é humanamente impossível a um árbitro assistente decidir com 100% de certeza aquele lance. Posso explicar que compreendo o VAR desse jogo que, na ausência de uma imagem totalmente esclarecedora que ali havia um erro de arbitragem, optou por “validar” o lance. Posso afirmar que concordo com a decisão de toda a equipa de arbitragem neste lance.

O Luisão e a Benfica Tv. Posso dizer que não me pareceu que tenha existido qualquer falta de Luisão, no interior da sua área, num lance aos 51 minutos de jogo. O seu adversário atrapalhou-se com a bola e deixou-se cair quando chegou perto do Luisão. Posso também dizer que o árbitro e o VAR (com recurso a ângulos que não passaram na transmissão do jogo) foram da mesma opinião que eu. Posso “reclamar” que não faz sentido, nem que seja à posteriori, não divulgar outros ângulos do lance para esclarecer os adeptos.

Queda do André Almeida. Posso dizer que que percebo que o árbitro e o seu assistente mais próximo não tenham considerado falta sobre o André Almeida num lance ocorrido 72 minutos. Posso tentar explicar que este é um lance de interpretação e, por isso mesmo, compreende-se a decisão do VAR em não intervir nesta situação. Posso afirmar que é minha opinião que André Almeida foi tocado no pé de apoio e que ficou, portanto, um pontapé de penálti por assinalar.

As faltas do Felipe e do Carraça. Posso abordar um lance no Boavista – FC Porto em que Felipe saltou de forma negligente sobre um adversário. Podia dizer que sou de opinião que ficou aqui um amarelo por comportamento antidesportivo por exibir ao central portista. Posso ainda dizer que Carraça, jogador do Boavista, foi advertido aos 40 minutos por uma falta, que considero grosseira, sobre Alex Telles. Podia e devia ter sido expulso.

Para além destes lances, aconteceram outros. Maioritariamente bem decididos. Podia dissertar sobre essas situações de jogo… mas só tenho 3500 caracteres.

Caracteres é uma das limitações do Twitter. Com o Facebook não temos esse problema. Estas são duas das plataformas que os directores de comunicação dos três clubes ditos grandes têm usado para transformar o nosso futebol em algo muito pequenino. Podia comentar estas estratégias de propaganda, de desinformação e de pressão. Podia. Mas fazê-lo, considerando o momento actual, seria descer a um nível no qual não me quero colocar. Nota: o presidente da APAF esteve infeliz quando sugeriu que treinadores ou comentadores fossem apitar os jogos quando os árbitros estivessem em greve. Desceu ao nível daquilo que critica.

Alguns dirigentes, alguns treinadores, alguns comentadores, alguns ex-árbitros comentadores (também não estou isento de algumas culpas), alguns jornalistas e alguns adeptos que “comem” tudo o que lhes é servido, todos contribuem para o ambiente que se vive no futebol português. É assim tão difícil gostar-se de um clube e, ao olharmos para uma decisão de um árbitro, conseguirmos avaliar sem um filtro vermelho, verde ou azul a toldar a nossa visão e razoabilidade?

No título coloquei a palavra pai. Podia tê-lo feito porque ele faz hoje 73 anos. Mas não. Escrevo uma breve nota sobre o meu pai, neste final de texto, apenas como contraponto do que acima escrevi. Escrevo para agradecer ao jornalista, com quase 50 anos de carreira, ter-me ensinado, através do exemplo, que podemos simpatizar com um clube e conseguir, simultaneamente, sermos honestos com nossa actividade, seja ela qual for e, principalmente, sermos honestos com nós próprios.

Fonte: Público