A Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) emitiu ontem um comunicado onde, e simplificando a mensagem, informa que os árbitros irão fazer greve aos jogos da Taça da Liga previstos para os meses de Novembro e Dezembro.
Algumas reflexões e questões sobre este tema:
A APAF comunicou uma decisão dos árbitros!
A APAF representa os árbitros e nunca emitiria um comunicado desta importância sem concordância praticamente unânime dos árbitros e árbitros assistentes do futebol profissional. Para o bem e para o mal, esta é uma decisão dos árbitros. Dificilmente haverá algum árbitro da principal categoria a “furar” esta greve.
O motivo e a razão dos árbitros.
A justificação apresentada para este extremar de posição está relacionada com clima de crispação que se tem vivido no futebol português, em particular com a atitude e linguagem utilizada por muitos dirigentes dos clubes do futebol profissional para com os agentes de arbitragem. Nada justifica o ambiente que os clubes, nomeadamente os seus diversos “veículos” de comunicação, têm criado em torno dos árbitros e das suas decisões. Os árbitros têm razão.
O que se pretende?
O comunicado é bastante claro quanto às consequências (quando e como a greve vai acontecer) mas é pouco claro relativamente ao que se pretende e como se pretende. Os árbitros pedem “uma reflexão profunda onde o comportamento dos dirigentes seja um dos pontos centrais a refletir e origine uma nova era no desporto nacional”. A intenção é justa e válida. Peca por falta de objectividade prática. O que tem efectivamente de acontecer para que esta greve seja desconvocada? O comunicado não esclarece.
O mau “timing” desta decisão…
Este foi, porventura e até ao momento, o fim-de-semana mais difícil da época para a arbitragem portuguesa. Aconteceram alguns erros graves por parte das equipas de arbitragem em diversos jogos. O projecto videoárbitro, com falhas humanas (árbitros) e tecnológica (falha de comunicações Cidade do Futebol – Estádio do CD Aves) também não teve uma boa jornada. Anunciar uma greve num momento em que as criticas às arbitragens têm algum fundamento, no conteúdo e não na forma, não credibiliza nem abona a favor desta tomada de posição.
O bom “timing” que é um erro grave…
Ainda sobre o “timing” desta decisão. O único aparente benefício para os árbitros em se ter lançado este comunicado ontem, é o facto de que, com ele, se ter criado um novo assunto que acaba por distrair as atenções das arbitragens menos felizes que aconteceram esta jornada. O errado disto? É que, caso tenha sido esta uma das motivações para a escolha do momento de fazer o comunicado, os árbitros estão a usar o mesmo instrumento que estão a criticar: a criação de notícias e factos para camuflar e distrair as atenções dos erros próprios.
Aguardemos como é que o futebol português e as suas instituições vão reagir a este comunicado. Clubes, Liga e Federação têm, agora, o apito nas mãos.