Na época transata, o regulamento de arbitragem da Liga dizia: “As nomeações e a constituição das equipas de arbitragem são obrigatoriamente divulgadas através de comunicado oficial a publicar até 48 horas antes da data do jogo para o qual estão nomeadas, salvo situações excecionais em que poderão ser divulgadas até 24 horas antes da data do jogo para o qual estão nomeados.” Durante a época, e devido a situações graves que envolveram, inclusivamente, a segurança das equipas de arbitragem, o Conselho de Arbitragem considerou estarem reunidas condições excecionais para ultrapassar os regulamentos, tornando as nomeações públicas apenas no dia do encontro.
Entrámos numa nova época e o texto do regulamento de arbitragem foi alterado, ajustando-se ao que vinha sendo prática, passando a referir que “as nomeações e a constituição das equipas de arbitragem são obrigatoriamente divulgadas até ao dia de realização do jogo, antes da realização do mesmo, tendo que ser comunicada aos serviços da Liga até 24 horas antes do início do jogo.” O ambiente à volta dos árbitros e das nomeações já estava mais calmo, dentro do que é possível no nosso futebol, mas a política de divulgar as nomeações apenas no dia do jogo manteve-se. Aceita-se. Estava a correr tudo bem e, por isso, não havia que alterar.
Como em Portugal há sempre quem queira mostrar que sabe mais do que os outros, mesmo que sejam informações irrelevantes, entrámos nestas últimas semanas numa brincadeira tonta de divulgação antecipada das nomeações, como se isso demonstrasse algum poder. Já ficou claro que há várias dezenas de pessoas que têm acesso a essa informação antes dela se tornar pública. O Conselho de Arbitragem, para retirar ‘poder’, mediatismo e visibilidade aos que andavam a brincar com estas informações, decidiu agora voltar a tornar públicas as nomeações nas vésperas dos jogos. Os árbitros estão confortáveis com esta decisão. Não há motivo para ser de outra forma. A novela terá acabado poucas semanas depois de começar. O que é que isto trouxe ao nosso futebol? O habitual: descredibilização!
Durante dias, depois da primeira fuga de informação, lemos títulos como “João Capela é um dos seis suspeitos de passar informação sobre árbitros”. Grave. Muito grave e muito penalizador para o árbitro em causa e para a arbitragem em geral. Mas ninguém no futebol está preocupado com isto. Continuamos a acreditar que o futebol vai sempre aguentar o mal que lhe fazemos…
Artigo de opinião publicado no jornal Record de 24 de abril de 2019