A saúde mental é algo que deve ser levado muito a sério e só quem não vive com os pés assentes na terra é que pode pensar o contrário.
Já lá vai o tempo em que uma pessoa com problemas desta natureza era estigmatizada, excluída ou rotulada de louca. O mundo entretanto mudou.
Hoje tudo acontece a uma velocidade estonteante, superior à nossa capacidade de raciocinar e executar.
O homem criou a máquina, a tecnologia e a inteligência artificial, mas começa agora a perceber que está bem atrás de qualquer uma delas.
ERRADO É DESVALORIZAR A EXISTÊNCIA DE DOENÇAS MENTAIS
Essa constatação, a de que afinal somos limitados, nada tem de errado. Pelo contrário: torna a nossa vida mais desafiante porque a imperfeição obriga à superação constante, à procura de respostas, à fixação de novas metas.
Errado é desvalorizar a existência de doenças mentais e achar que não passam de meras chamadas de atenção. Errado é achar que este tipo de coisas só acontecem a pessoas demasiado frágeis, sensíveis ou vulneráveis.
De acordo com dados recentes da OMS, estima-se que quase um bilião de pessoas tenha transtornos mentais. Estamos a falar de 1 em cada 7/8 pessoas que habita a Terra.
A “boa notícia” é que nem todas padecem de situações irreversíveis. Diz quem sabe que os mais frequentes – stress, ansiedade, depressão e dependência de substâncias – têm tratamento fiável, assim exista vontade, meios e sensibilidade para o iniciar. Assim exista apoio e incentivo de um amigo atento ou de um familiar próximo.
NINGUÉM MERECE PASSAR POR ISSO SOZINHO
Vem este tema a propósito da dimensão crescente que este fenómeno tem na sociedade moderna. Uma dimensão particularmente relevante nas pessoas cujas atividades profissionais exigem alguma exposição pública.
Essas sentem uma pressão adicional: a de terem que fazer tudo certo para não serem torturadas nos media ou chacinadas nas redes sociais. Sentem que têm que ser perfeitas, para não terem que se vergar a humilhações constantes ou a condenações na praça pública.
São tempos difíceis, estes, para quem tem os holofotes virados para si.
Há quem aguente e se torne mais forte e resiliente e há quem simplesmente não consiga ultrapassar tamanha exigência emocional. Certo, certo é que ninguém merece passar por isso sozinho.
VÁRIOS OS ATLETAS DERAM NOTA PÚBLICA DE FASES DE VIDA ASSOMBRADAS POR FANTASMAS E PEQUENOS MONSTROS
A esse propósito é justo que se reconheça um factor relevante: é cada vez mais comum assistirmos a histórias de vida contadas, na primeira pessoa, por figuras conhecidas.
A importância desses relatos é transcendente para quem está do lado de fora. Cada uma dessas confissões corajosas é uma bóia de salvação para milhares de pessoas que se julgavam sozinhas. Cada medo partilhado é o paracetamol perfeito para um mão cheia de gente que ansiava por algo que anulasse a sua dor e angústia.
No desporto, foram já vários os atletas que deram nota pública de fases de vida assombradas por fantasmas e pequenos monstros. Fases de vida que afetaram o seu bem-estar pessoal e familiar, a sua lucidez e o seu desempenho profissional.
ACREDITO QUE MUITOS (ÁRBITROS ) “SOFRAM” EM SILÊNCIO
Curiosamente nunca se ouviu o mesmo da boca de um árbitro, mas acredito que muitos “sofram” em silêncio. A pressão a que estão sujeitos é inenarrável.
Os árbitros passam toda uma vida a lidar com stress elevado (dentro e fora de campo), críticas corrosivas e acusações graves. A sua competência é medida a cada penalty e a idoneidade a cada decisão. Depende do jogo, do clube ou do contexto desportivo. Às vezes nem depende de nada.
Não é fácil caminhar uma vida inteira a tentar andar pelos intervalos da chuva, sendo escrutinado a toda a hora com base em pressupostos demasiado castradores e injustos.
A somar a tudo isso há o dano social, aquele que afeta o quotidiano pessoal e a estabilidade familiar. E depois, claro, há ainda a insinuação constante, a ofensa gratuita, a invasão de privacidade e, não raras vezes, a agressão física.
Não é fácil. As pessoas acham piada porque o árbitro é o malandro mal-intencionado que não é filho delas, mas esquecem-se que é filho de alguém.
É importante que comecemos a olhar para esta realidade de forma cada vez mais arejada, consciente e ativa. É importante sinalizar, apoiar e direcionar para o apoio adequado quem evidenciar sinais de alerta. E é importante abandonarmos, de vez, esta ideia de que somos todos uma espécie de Super-Homens, imunes a quebras emocionais ou psicológicas.
Não é verdade. Não é verdade de todo.
Procurar ajuda não é sinal de fraqueza, é sinal de inteligência. Fraqueza é não reconhecermos que precisamos dela.
Estejam atentos e não facilitem.