Aos olhos da opinião pública, as arbitragens das últimas jornadas não foram bem conseguidas. Algumas foram até particularmente más. E é verdade. É mesmo verdade.
Esta constatação não tem ponta de malícia nem visa potenciar conflitos ou perturbação exterior. É como é. E é importante termos a capacidade de olhar para “dentro da nossa casa”, para o nosso próprio umbigo, antes de pensarmos que somos sempre o elo mais fraco da história.
É preciso perceber que, por vezes, as coisas simplesmente não correm bem. Não saem como queríamos. Às vezes, há noites más. Francamente más. Aí o melhor é ter a dignidade de aceitar essa realidade e retirar as devidas ilações. Na arbitragem não há Maradonas, mas aquele que se acha acima da crítica está abaixo de todos os outros.
Acertar e errar é uma inevitabilidade da vida e do jogo. É uma inevitabilidade dos árbitros, jogadores e treinadores. Dos dirigentes, adeptos, jornalistas e comentadores. Ninguém está imune, ninguém escapa ao erro.
No entanto, há entre um passado recente e estes novos tempos uma pequena-grande diferença, que fez disparar os índices de intolerância do povo: a videoarbitragem.
A sua chegada ao futebol aumentou muito a fasquia. Aumentou a expetativa de toda a gente.
As pessoas sabem que há agora alguém teoricamente mais qualificado, que está tranquilamente sentado numa sala, a ver (com todos os meios e condições) aquilo que elas veem em casa. Por isso, são exigentes. Exigem que não se cometam tantos erros e que não se tomem tantas más decisões.
É natural, é compreensível. É legitimo.
Mas quem exige tem que estar bem ciente das regras do jogo. Esta nova ferramenta não é de uso livre. Não vai a todas. Veio aliás com um “Manual de Utilização” bastante restritivo.
Os videoárbitros não intervêm quando querem. Só o podem fazer nos lances em que o erro cometido em campo seja claro, isso em apenas quatro situações de jogo. Em todas as outras, funcionam como uma espécie de cúmplices: veem que o colega comete um erro mas não podem fazer nada. Deve ser uma frustração inimaginável.
Claro que, sendo a tecnologia um verdadeiro Ferrari, precisa de um condutor à altura. Um que seja experiente e que se sinta confiante, que compreenda a máquina melhor do que ninguém e que lhe dê o melhor use, dentro do uso possível. Do uso que pode ter.
Parece-me que ainda estamos na fase de apurar quem são os melhores. Nem todos parecem ter unhas para o bólide e isso é algo que só o tempo irá corrigir.
Até lá, a verdade é que temos menos erros do que tínhamos. Temos mais verdade desportiva em lances que jamais a teriam se as decisões fossem tomadas “in loco”, a olho nú. É importante valorizar isso também.
Este é um processo contínuo, que merece formação permanente e acompanhamento constante. Aos poucos, teremos videoárbitros mais competentes e um protocolo mais abrangente e adaptado à necessidade real do jogo jogado.
Não pode ser de outro modo.