A juventude do atual quadro de árbitros da primeira categoria do futebol nacional tem sido, esta época, tema recorrente nas discussões sobre a arbitragem portuguesa.
Nas análises aos jogos e às arbitragens, sejam estas feitas por adeptos, comentadores, clubes ou até mesmo por ex-árbitros, ouvimos e lemos que a arbitragem portuguesa tem, atualmente, um défice de qualidade devido à pouca experiência da maioria dos seus árbitros. É uma visão distorcida e distante da realidade querer associar o erro apenas à falta de qualidade dos árbitros; bem como associar a falta de qualidade dos árbitros à sua inexperiência.
É uma realidade que a inexperiência pode levar a erros, mas nunca poderá ser sinónimo de falta de qualidade. Da mesma forma, um árbitro experiente e de qualidade não está isento de fazer análises e julgamentos errados. Exemplo do que aqui refiro foram dois jogos desta primeira jornada da segunda volta:
O “inexperiente” João Pinheiro, atualmente na sua segunda época na primeira categoria e internacional desde 2016, foi nomeado para dirigir o Marítimo – Sporting. Fez uma arbitragem onde, tanto técnica como disciplinarmente, errou muito pouco. A sua juventude e alguma falta de experiência não foram, desta vez, causa de erros. A forma como geriu o jogo e as boas decisões que tomou foram, seguramente, consequência da qualidade que tem. Provou, neste jogo, que inexperiência e falta de qualidade não estão diretamente relacionadas.
Por oposição, foi nomeado para o jogo Porto – Rio Ave um árbitro com inquestionável experiência – Jorge Sousa. A sua já longa e bem-sucedida carreira não evitou que tivesse feito uma arbitragem isenta de falhas. Falhas essas que, do meu ponto de vista, terão sido inclusivamente causadas por algum excesso de confiança na sua experiência. A primeira, e talvez mais importante para o jogo, aconteceu aos oito minutos quando Jorge Sousa assinalou uma falta do central portista, Felipe, sobre um seu adversário – Guedes, não tendo aí tomado qualquer medida disciplinar. Felipe pisou o tendão de Aquiles do jogador do Rio Ave com algum, para não dizer muito, perigo para a integridade física deste jogador; e o árbitro decidiu fazer apenas um forte aviso público ao jogador do FC Porto. Terá entendido que, dado o momento do jogo, fase inicial, poderia tentar “gerir” sem exibir qualquer cartão. Ao tomar a decisão de não intervir disciplinarmente nesta situação, terá ficado refém de um critério que, pelas muitas faltas com similar gravidade que vieram a ocorrer durante todo o jogo, se tornou óbvio não ter sido a melhor decisão para a proteção da integridade dos jogadores e, consequentemente, para a integridade do próprio futebol. O experiente Jorge Sousa, entre outras falhas disciplinares, “deixou” ainda em campo Layún que fez uma falta grosseira, merecedora de expulsão, e duas faltas negligentes (pisões a adversários) merecedoras de advertência.
A experiência não foi, desta vez, garantia de uma arbitragem de qualidade. Da mesma forma que muito poucos olharão para os erros de Jorge Sousa como sinónimos de falta de qualidade deste árbitro.
A qualidade de um árbitro poderá até ser consequência da sua muita experiência (são os erros que nos fazem crescer). A menor experiência ou juventude de um árbitro não poderá nem deverá ser razão para que, ao primeiro erro, lhe apontemos falta de qualidade.
Nota importante: neste artigo foquei-me apenas dos árbitros principais. Não quero, no entanto, deixar de referir que esta reflexão sobre “experiência versus qualidade” é extensível e aplicável aos árbitros assistentes. Nesta jornada houve muitos e difíceis lances de análise de fora de jogo. Houve erros, alguns com influência no resultado dos respetivos jogos. Houve excelentes decisões, também elas com influência nos respetivos jogos. Houve futebol!