Autor

Jorge Faustino

Data: 23/01/2018

A linha virtual do fora de jogo

O debate sobre se um jogador está 10 centímetros em fora de jogo ou não, foi uma das questões que a implementação do projecto VAR acentuou no nosso futebol.

Todos os fins de semanas vemos acesas discussões por causa de um golo que foi precedido por uma situação em que uns argumentam que o jogador estava em linha com o penúltimo adversário e, outros, defendem que o jogador estava adiantado. A segunda fase da discussão já envolve a tecnologia ou a falta dela: “A linha virtual está mal colocada!”; “Porque é que não há linha virtual neste lance?”; “O VAR não tem acesso às linhas virtuais da transmissão televisiva! Porquê?!”.

As linhas virtuais são, assim, uma das figuras do futebol português actual. E se o são, também eu quero falar sobre elas.

Quem coloca a linha?

As linhas virtuais sque vemos nas transmissões são colocadas pelos técnicos da empresa que em Portugal está responsável pela captação das imagens dos jogos. SportTv e BenficaTv, canais que transmitem jogos da Liga NOS, utilizam o mesmo fornecedor.

Importa, no entanto, esclarecer que a opção de colocar ou não no ar a imagem com essa linha, já é de responsabilidade do canal que transmite o jogo. É uma opção editorial.

Como colocar a linha?

Existe uma diferença importante relativamente à posição em que uma linha virtual é colocada e à forma como uma fora de jogo deve ser analisado.

As linhas devem ser sempre colocadas nos pés do penúltimo defensor (normalmente o guarda-redes é o último), mais concretamente, no pé que esteja mais próximo da linha de baliza. Mesmo que o defensor tenha o tronco mais perto da linha de baliza, será no pé que a linha é colocada pois, estando o pé perto no chão ou perto deste, é a forma que garante não haver uma colocação errada da linha. Já para a análise ao fora de jogo, importa olhar e considerar a parte do corpo, com excepção dos braços e mãos, que está mais próxima da linha de baliza.

Havendo esta diferença, entre a possível colocação da linha virtual e a análise da parte do corpo a considerar para o fora de jogo, é importante estarmos cientes de que as linhas virtuais servem como ajuda à tomada de decisão e não como carimbo final. Muitas vezes um atacante aparece ligeiramente adiantado relativamente à linha (colocada no pé do defesa) e poderá estar a ser colocado em jogo pela cabeça desse mesmo defesa que está inclinado na direcção da sua baliza.

Em que momento colocar a linha?

Alguns centésimos de segundo são o suficiente para um jogador, em corrida, avançar alguns centímetros no terreno de jogo. O acto de tocar/chutar a bola para um colega também demora apenas alguns centésimos de segundo. Pela importância que a análise, ao centímetro, dos foras de jogo tem vindo a tomar, o International Board veio esclarecer, no passado mês de Setembro, que o momento de avaliação do fora de jogo é aquele em que o pé (ou outra parte do corpo que possa contactar legalmente com a bola) inicia o contacto com a bola para efectuar o passe. Assim, a colocação das linhas virtuais deve, também, acontecer no momento em que o pé do colega que passa a bola começa a contactar com esta e não quando a bola começa a sair do pé. São dois ou três frames de diferença que, como já temos visto esta época, podem fazer toda a diferença.

E o VAR, quanto terá linha virtual para ajudar à decisão?

Existem ainda muitas dúvidas sobre a fiabilidade da colocação de linhas virtuais. As medidas exactas dos campos e o tipo de lentes usadas para filmar os jogos são duas variáveis que podem fazer toda a diferença na precisão e fiabilidade da colocação das linhas virtuais.

A FIFA convidou, em Outubro passado, algumas empresas para, num jogo da Bundesliga, demonstrarem e testarem as suas diferentes tecnologias de aplicação das linhas virtuais. Estes testes demonstraram que existem várias empresas e tecnologias capazes de, com um elevado grau de precisão, aplicar estas linhas de diferentes ângulos. Com estes resultados positivos, ficou decidido que se iriam fazer mais testes, e de forma mais ampla (em mais jogos) para validar e certificar estas tecnologias. É seguro dizer que, em breve, o VAR poderá apoiar-se nas linhas virtuais para ajudar a verdade desportiva.

Fonte: Público