Os árbitros que na passada época ficaram nos três primeiros lugares da classificação, estiveram em três dos jogos dos quatro primeiros classificados da liga. As arbitragens que fizeram, tornaram a jornada 22 a menos feliz da época para o sector da arbitragem e, por conseguinte, para o futebol português.
Poderia dizer de forma mais suave? Podia. Mas não deixava de ser verdade.
Estes árbitros são fracos? Incompetentes? Mal preparados? Não.
São dos melhores que temos em Portugal e a arbitragem portuguesa é reconhecida como sendo uma das melhores do mundo. Não sou apenas eu que o digo. O actual presidente do comité de arbitragem da FIFA, Pierluigi Collina já o afirmou no passado. O número 2 do mesmo comité, Hani Balan, “diz” isso de cada vez que convida os árbitros portugueses para dirigirem os jogos mais importantes do seu campeonato (Qatar). As nomeações de Artur Soares Dias e Jorge Sousa para a liga dos campeões dizem isso. A presença dos nossos jovens árbitros internacionais, e outros que ainda não são internacionais, em cursos de talentos da UEFA dizem isso.
Voltemos ao início: aconteceram nesta jornada erros importantes? Erros graves? Aconteceram. Alguns pontapés de penálti ficaram por sancionar. Talvez um pontapé de penálti tenha sido erradamente assinalado. Jogadores que deviam ter sido expulsos, ficaram em campo. Foram mal assinalados foras de jogo que cortaram jogadas prometedoras. Ficaram por apitar faltas em zonas perigosas. Os videoárbitros falharam por omissão em alguns lances. Um videoárbitro interpretou mal o protocolo, dando uma indicação errada e despropositada a um árbitro, levando-o a anular um golo que era legal.
Este último, é algo novo. É um erro sobre o qual vale a pena escrever e esclarecer.
Foi o que o Conselho de Arbitragem fez através de um comunicado publicado ontem (segunda-feira). Veio admitir o erro da equipa de arbitragem esclarecendo que houve uma incorrecta interpretação do protocolo naquela tomada de decisão. Fez bem. Não pela simples admissão deste erro em particular (isso nada traz ao futebol), mas pela clarificação que este texto trouxe sobre a definição de “fase de ataque” e qual a forma de a avaliar em situações futuras.
Ficámos a saber que “a fase de ataque consiste numa jogada que vá rapidamente na direção da baliza adversária. Quando a equipa que desenvolve uma fase de ataque decide recuar em direção ao seu meio-campo ou a defesa adversária joga a bola passa a ser uma nova jogada, eliminando-se as eventuais infrações técnicas cometidas na anterior fase de ataque.”
O timing desta intervenção do CA foi acertado. O seu conteúdo, nomeadamente no que se refere à descrição de “fase de ataque” parece-me demasiado simplista relativamente ao que está originalmente escrito no protocolo (versão 8 em inglês).
Fica ainda a faltar, a bem do projecto videoárbitro, a divulgação deste “famoso” protocolo. Não é de conhecimento público qualquer tradução oficial desse documento tão importante no futebol actual. Faz falta. Aguardemos.
Nota: O futsal foi uma variante do futebol que nunca me atraiu muito enquanto árbitro. Nunca me entusiasmou a possibilidade de apitar um jogo de futsal. Muitas vezes brinquei (bullying psicológico será a forma mais justa de caracterizar o meu comportamento) com colegas que, tendo tirado comigo o curso de árbitro de futebol de 11 em 1995, acabaram por optar por uma carreira no futsal (o “futebol macaco” como tontamente lhe chamávamos na altura). Este é o momento em que, para além de pedir publicamente desculpas, lhes quero dar os parabéns pela conquista do título europeu. Sem eles, sem a sua paixão e sem a sua capacidade de sacrifício pela modalidade, o futsal português não seria o que é hoje. Obrigado por este título e pela alegria que me deu enquanto português.