Autor

Duarte Gomes

Data: 27/11/2020

15 618

É este o número oficial de árbitros e juízes federados que existem em Portugal, de acordo com a última informação disponível (de 2018).

A estes juntam-se garantidamente muitos outros, não oficiais ou amadores, ligados ao desporto social, escolar, de rua, etc.

Estamos a falar portanto de milhares e milhares de pessoas – meninas e meninos, homens e mulheres – que neste momento estão privados de fazer o que mais gostam. Estão privados de dirigir, arbitrar e ajuizar as modalidades nos quais se especializaram porque a maioria das atividades está suspensa. Interdita. Encerrada.

O país ordenou que o desporto de formação parasse e é isso que tem acontecido nos últimos oito meses.

Trata-se de uma decisão política baseada em pareceres médicos que em última instância, goste-se ou não, procuram garantir a segurança e saúde dos cidadãos.

O problema é que esta opção bem-intencionada colide de frente com muitos outros pareceres e estudos do género, que garantem que a manutenção da atividade física/desportiva é absolutamente fundamental para combater, entre outros, o sedentarismo, a obesidade e vários tipos de doenças. É fundamental para a saúde física, emocional e mental dos mais velhos e para o desenvolvimento social, cognitivo e ético dos mais jovens.

Desporto é saúde, por isso custa ver que é a saúde que agora o proíbe.

A fase é péssima e não é fácil estar no lugar de quem tem que tomar decisões difíceis, mas está lá quem entendeu ter condições para tomar estas e outras decisões. Não se pede perfeição nem se exige o impossível, mas é importante que se perceba que a coerência tem que existir em situações-chave.

A manutenção do desporto de alta competição justifica-se por outros valores, mas a dos escalões inferiores – a das massas, que dá trabalho, entretenimento e alegria ao povo – tinha que ser viável de algum modo também. Morrer da cura ou da doença é morrer na mesma e o medo não pode comandar as pessoas ao ponto de se tornarem decisões mais destrutivas que curativas.

A pandemia “desacelerou” o nosso ritmo tal como o conhecíamos, mas não pode travá-lo repentinamente. O antídoto não pode ter mais veneno que a dentada.

Por força destas duras opções, o número de inscritos nas várias modalidades desportivas baixou cerca de 80% desde Março de 2020. Estamos a falar de uma catástrofe para milhares de jovens e adultos, que agora se sentem desiludidos e magoados.

Muitos dos meninos que não podem treinar nem jogar, correr ou patinar, andam a encontrar alternativas piores para se entreter.

Tem que haver uma resposta mais equilibrada e sensata, mais coerente e justa, que devolva aos praticantes, aos clubes, aos árbitros e às pessoas que vivem disto o gosto de retomar, ainda que gradualmente, a vida que escolheram. A vida que dá força de vida, que beneficia o comércio e economia locais.

Viver assim não é viver. É sobreviver e o ser humano não nasceu para isto. Não pode ter nascido.

Fonte: SIC Notícias