RunRepeat é uma empresa que avaliou 1283 jogos feitos, esta época, na Premier League, Serie A, La Liga e Bundesliga e comparou os cartões amarelos que saíram dos bolsos dos homens do apito antes, e depois, da paragem provocada pela pandemia. E o número castigos amarelados, por jogo, decresceu 20.2% quando o futebol se passou a ter que jogar sem público nas bancadas.
A barulheira descomunal funciona-lhes bem, sentem os decibéis do apoio, o estádio vira um inferno para quem o visita e eles são empurrados pelo público, quando jogam em casa é outra coisa. O campo parece inclinado e mais outros primos direitos destes clichés se poderiam acrescentar à lista do que, no futebol, é comum pensar e dizer sobre as equipas cujos estádios cheios de adeptos lhe dão, por razões arquitetónicas, sonoras ou emotivas, uma particular vantagem por jogarem em casa.
Há recintos que são construídos para aproximar os adeptos deles próprios (aquela bancada do Signal Iduna Park) e/ou do relvado (o típico estádio à antiga, em Inglaterra), outros que têm uma acústica que parece duplicar o som de cânticos em uníssono (San Mamés), ou os que, tão cheios de gente dedicada à causa e ao clube, reagem gritantemente a tudo o que se vai passando (Anfield). E ter tantos berros, apupos ou búúús a cada acontecimento contra a equipa da casa pode afetar anda no campo de apito na boca e cartões no bolso.
É um hipótese não provada, nem factual, mas sugerida, agora, também por um estudo, que registou um decréscimo de 20.2% no número de cartões amarelos mostrados a jogadores de equipas visitantes na Premier League, Série A, La Liga e Bundesliga, após cada uma das competições ser retomada depois do confinamento.
O trabalho, feito pela RunRepeat, analisou 1283 jogos realizados, esta época, nas quatro ligas – tiveram, entre 2013-2018, as melhores médias de assistência na Europa, segundo o Observatório do Futebol Europeu -, e concluiu que a maior variação se registou em Inglaterra (-28%), seguida de Itália (-17.82%) e de Espanha (-9.6%). A Alemanha o único país onde o principal campeonato de futebol registou a tendência contrária: +5.8% de cartões amarelos para jogadores visitantes, por comparação com os encontros com adeptos no estádio.
Sem público nas bancadas, os árbitros não só apontaram o amarelado dos cartões menos vezes a futebolistas de equipas que jogavam fora de casa, como até concederam, em média, um maior número de faltas aos futebolistas visitantes até lhes mostrarem um cartão dessa cor.
Esse rácio teve um aumento de mais de 50% na Premier League (de um média de 5.81 faltas para as 8.77), de 29.5% na Série A (4.85 para 6.28), de 21.8% na La Liga (5.05 para 6.15) e de 9.8% na Bundesliga (5.73 para 6.29). Em jogos com público esta temporada sucedia o contrário: as equipas da casa faziam mais faltas, em média, até o homem do apito lhes mostrar um cartão. “Podemos ver que a tendência dos árbitros pelas equipas da casa mudou completamente sem adeptos nos estádios”, lê-se, conclusões do estudo.
Essa disparidade desapareceu no pós-confinamento. E foi até revertida em alguns casos.
Nos jogos realizados sem adeptos, após a retoma, nas quatro ligas, o número de faltas ocorridas até ao árbitro mostrar um cartão amarelo aumentou tanto para as equipas da casa, como para as visitantes, o que pode indicar tanto uma menor agressividade das infrações, ou uma maior leviandade de quem apita perante as faltas cometidas – são apenas hipóteses, porque nem o estudo arrisca, sequer, qualquer deliberação neste tema.
Mas, comparando os rácios entre as equipas que jogavam em casa e fora, concluiu que “os clubes visitantes foram autorizados a cometer mais faltas até serem castigados com um cartão amarelo”. No geral, contudo, o estudo analisou a média do número de faltas por jogo se manteve igual, ou quase, nos quatro campeonatos, sendo a Bundesliga, que foi a primeira a regressar à competição, a única a registar um aumento (11.4%).