Jorge Faustino e a lei do fora de jogo: «Esclarecimento do IFAB é uma ajuda para interpretar os lances»

O International Football Association Board (IFAB) tornou públicas as diferenças entre uma jogada deliberada e não deliberada, no que às leis do fora de jogo diz respeito.

O nosso jornal esteve à conversa com os árbitros Record, Jorge Faustino e Marco Ferreira, que não se mostraram surpreendidos com este “esclarecimento” do organismo.

“Aquilo que o IFAB vem dizer agora não é diferente do que estava já instituído. Eles vieram afinar a forma como os árbitros devem analisar as situações. É uma ajuda para os árbitros interpretarem os lances”, começou por dizer Jorge Faustino, que viu Marco Ferreira concordar com esta visão: “Atendendo a que a maior parte das leis de jogo requerem uma interpretação, é normal que uma decisão errada em campo, principalmente em jogos de maior importância, faça com que haja afinações ao que já estava definido. Houve uma má interpretação [no golo de Mbappé na final da Liga das Nações da época 2020/21] e sentiram esta necessidade.”

Para quem não se recorda, o lance que decidiu a competição em 2020/21 motivou inúmeros protestos, principalmente dos jogadores espanhóis. Na altura, Espanha e França estavam empatadas a um golo, mas um toque infortunado de Éric Garcia deixou a bola nos pés de Mbappé, que não se fez rogado e coloque os gauleses em vantagem.

“Ao dia de hoje, o golo do Mbappé seria anulado. A nova interpretação tem como objetivo salvaguardar que não é um toque mal dado, instintivo ou em esforço que faz com que o jogador que estava inicialmente em fora de jogo, passe a estar em jogo. A lei não mudou, mas não havia este esclarecimento que permitisse ao árbitro esclarecer o que é jogar deliberadamente a bola ou o que é um gesto de reação”, explicou Jorge Faustino.

Para Marco Ferreira, este esclarecimento é que fazia falta, desde que tornaram oficiais as alterações. “Quando foi alterada a interpretação à lei do fora de jogo, ficou um pouco na dúvida o que queriam dizer quando afirmavam qual o impacto que existia para que um jogador que estivesse em fora de jogo fosse punido. O que é deliberado requer interpretação, não é factual. Só o próprio jogador o pode dizer. Assim, foi preciso arranjar ferramentas para detetar se existe ou não intenção de jogar a bola. O IFAB fez uma leitura abrangente sobre o que é externo: se o jogador vê a bola de maneira clara; se esta lhe chega lentamente; se não há qualquer mudança de trajetória ou se o atleta tem tempo para coordenar o corpo de maneira a abordar o lance, bem como se é uma bola rasteira ou pelo ar”, clarificou o árbitro.

No caso do mediático Espanha-França da Liga das Nações, esta ‘nova’ forma de avaliar a intenção de um jogador, vem trazer ‘justiça’ às ações dos defesas. “Isto é uma forma de ‘defender’ as ações dos defesas, uma vez que ficariam sempre na dúvida de tentar jogar a bola, dar um toque mal dado na bola e fazer com que o jogador que estava inicialmente fora de jogo, fique em jogo. Estavam a condicionar os defesas a jogar ou não a bola, o que não deve acontecer no futebol, já que os jogadores devem tentar sempre disputar todos os lances”, afirmou o juiz.

Fonte: Record