Queixou-se o árbitro de Leiria do que tem vivido nas últimas semanas, cada vez que vê televisão, ouve rádio ou lê jornais: "Temos de ter a capacidade e força de espírito para resistir. Esta capacidade só está ao alcance de meia dúzia de predestinados, porque 90 por cento de quem nos critica, se algum dia lhes pusessem um apito na boca, borravam-se todos, a começar por um senhor que eu não digo o nome, mas que tem o cabelo encaracolado."
Deixando de lado a linguagem coloquial, Benquerença tem razão num ponto: é que, de facto, os adeptos (especialmente os que estão viciados no sofá e nas inúmeras repetições televisivas) julgam ser tarefa fácil dirigir um jogo.
Durante os 90 minutos, um árbitro corre oito a dez quilómetros. Digamos que é um esforço razoável para pessoas com 30 a 45 anos. Juntemos a este esforço físico o facto de ter de estar permanentemente concentrado e tomar constantemente decisões. É ou não falta? Houve simulação? Um estudo recente mostrou que um árbitro toma 565 decisões (ou não-decisões) nos 90 minutos de jogo. Acrescente-se o stress resultante da pressão dos jogadores, dos treinadores, dos adeptos e até do facto de saber que está a ser filmado por várias câmaras, que proporcionam a detecção do mais pequeno erro.
Quem olhar serenamente para estes dados, e se colocar no papel de árbitro, perceberá facilmente que apitar um jogo é bem mais difícil do que parece. Até porque um árbitro não tem claque, nem defensores. Um erro grave fica para sempre, bem ao contrário dos jogadores, que têm segundas e terceiras oportunidades para compensarem um erro.
Olegário tem, pois, quase toda a razão. Faltou apenas reconhecer que errou. Porque, mesmo com toda a boa vontade, há erros difíceis de entender. Bastava dizer "peço desculpa, estava distraído" ou "avaliei mal o lance" e a razão estava toda do lado dele.
Fonte: Público.pt - Hugo Daniel Sousa