Um campeão do fair-play



Arquitecto de profissão, Bruno Teixeira tem no futebol amador a ocupação dos tempos livres, actividade em que se distingue dos demais pelo desportivismo que sempre apresenta.
Um encontro entre o Rechousa e o Racing, da Divisão de Honra de Amadores da Associação de Futebol do Porto, ficou marcado por uma acto de fair-play, raras vezes visto nos campos de futebol.
Bruno Teixeira, jogador do Racing, dispôs de uma flagrante oportunidade para marcar golo, mas, ao ver o guarda-redes adversário lesionado, optou por colocar a bola fora das quatro linhas, num gesto que todos os presentes fizeram questão de louvar. "O guarda-redes estava magoado e não me ia aproveitar dessa situação", começou por explicar o arquitecto de 30 anos que já representa o clube há 12. "Em momento algum me passou pela cabeça marcar golo. Estamos cá para nos divertir e matar-mos o bichinho de jogar a bola. É óbvio que queremos ganhar sempre, mas com correcção", fez notar o capitão do Racing.
Com o jogo a aproximar-se do intervalo, o marcador registava uma igualdade a um golo, mas nem assim o jogador aproveitou o lance para colocar a equipa em vantagem. "Os meus companheiros disseram-me que fui um matreco", conta Bruno, divertido, já depois de ter recebido elogios do árbitro e dos adversários.

Enquanto todos os presentes valorizavam o espírito desportista de Bruno, este prefere desvalorizar o acto, asseverando ter sido um "lance normal". Um episódio idêntico ocorreu em 2001, em jogo na Primeira Liga Inglesa entre o West Ham e o Everton, quando o italiano Paolo Di Canio agarrou a bola com a mão ao ver o guarda-redes contrário deitado no chão a pedir assistência. Este comportamento valeu ao italiano, conhecido pelo mau génio, o reconhecimento da FIFA com o prémio Fair-Play.

"O futebol amador não é aquilo que as pessoas pensam. A maior parte dos intervenientes são pessoas que gostam de praticar desporto, que andam cá por carolice, e privilegiam a amizade, pois é esse o espírito que nos faz enfrentar o frio e a chuva", salienta Bruno Teixeira, que tem na filha Maria Madalena, de um ano, o seu grande orgulho.

"O que me faz andar no futebol é o convívio. Tenho grandes amigos no Racing e adoro o clima de amizade que lá se vive", enaltece Bruno Teixeira, que, tal como todos os companheiros, paga a inscrição de 150 euros no início da época e uma mensalidade de 25 euros para ajudar à sobrevivência do clube portuense.

Fonte: JN