Três decisões revertidas pelo videoárbitro em favor da verdade desportiva. Este foi o saldo de um dos jogos mais benéficos para a imagem do projecto videoárbitro em Portugal até ao momento.
O Estoril – Sporting, desta 21ª jornada, teve outras decisões importantes. Todas elas bem decididas por Manuel Mota. Refiro-me, em particular, a três lances de difícil análise nas áreas: queda de Bruno César na área do Estoril aos 29 minutos e quedas de Ailton e Allano, na área do Sporting, aos 40 e 75 minutos, respectivamente.
Os outros lances marcantes da partida, ao nível da arbitragem, foram as três decisões que o VAR reverteu em lances de golo / fora de jogo.
Aos 30 minutos de jogo, Ewandro surgiu isolado frente a Rui Patrício. No momento em que o jogador do Estoril tocou na bola, o árbitro assistente levantou a bandeirola assinalando posição irregular do brasileiro. Sendo uma jogada de golo eminente, o árbitro pôs em prática aquela que é a única grande alteração na forma como os árbitros de campo devem actuar considerando a introdução do VAR: apenas apitou a sancionar o fora de jogo quando a jogada terminou, neste caso, quando a bola entrou. Esta decisão de retardar o apito permite que o VAR reveja o lance e possa sugerir a correção da decisão. Foi o que aconteceu. Ewerton estava em linha com os dois penúltimos adversários e, portanto, em posição legal. Golo legal que o videoárbitro “deu” ao jogo.
Mas o VAR também “tirou” dois golos a este jogo. Dois golos que, a serem validados, estariam feridos de ilegalidade por terem sido precedidos de foras de jogo.
André Claro, aos 69 minutos, marcou para o Estoril. O atacante canarinho estava em posição legal, mas Ewandro, seu colega que fez a assistência, estava em posição ilegal no momento em que a bola lhe foi passada na construção da jogada que depois resultou em golo. O árbitro assistente, ligeiramante adiantado, não terá tido a percepção do adiantamento do jogador e deixou a jogada prosseguir. O videoárbitro, que deve rever toda a jogada de um lance que termine em golo, detectou a infracção e deu indicação de que o golo deveria ser anulado por fora de jogo. Manuel Mota aceitou essa indicação e invalidou, bem, o golo.
Foi já nos descontos, aos 95 minutos, que o videoárbitro “anulou” mais um golo. Escrevo anulou entre aspas por ser formalmente incorrecta esta forma de nos referirmos ao lance. O VAR não anula golos. O VAR sugere ao árbitro, perante as imagens a que tem acesso, que reveja determinado lance para alterar a decisão inicial, ou, em alguns casos específicos, como um fora de jogo claro em que o jogador toca na bola, pode (e deve) o árbitro aceitar a sugestão do VAR sem a necessidade de ir consultar as imagens. O fora de jogo, salvo raras excepções relacionadas com o influenciar um adversário, é uma situação factual (jogador está adiantado ou não está) e por isso não está sujeita a factores de interpretação que impliquem uma avaliação do árbitro principal.
Quanto ao lance em sim, Montero, e outros jogadores do Sporting estavam em posição de fora de jogo no momento em que a bola foi cruzada para a área do Estoril. Montero tomou parte activa no jogo ao cabecear a bola para o interior da baliza canarinha. Lance confuso que escapou ao árbitro assistente, mas que as imagens televisivas esclareceram. Golo bem anulado pelo videoárbitro.
O International Board diz que o videoárbitro veio para ficar. A FIFA quer que o videoárbitro esteja no Mundial da Rússia. A UEFA começa a mostrar aceitação deste projecto. As Ligas que não têm videoárbitro, anseiam pela sua chegada. Saibamos em Portugal valorizar, proteger, explicar e, principalmente, não denegrir, um projecto que chegou para valorizar o futebol.