Que não restem dúvidas, no futebol só há verdades absolutas quando o jogo acaba. O que aconteceu na meia-final da Liga dos Campeões entre Real Madrid e Bayern Munique é apenas mais um exemplo disso.
Nos instantes finais da partida, uma decisão da equipa de arbitragem liderada por Szymon Marciniak deixou os bávaros à beira de um ataque de nervos.
Para quem não viu, o lance explica-se mais ou menos assim:
– Minuto 90+13′ (inicialmente foram dados nove minutos de compensação): Kimmich fez passe longo, para o interior da área adversária;
– De Light e Muller fizeram-se à bola, rodeados por defesas merengues;
– Tomasz Kwiatkowski (árbitro assistente que, tal como Marciniak, esteve na final do Mundial do Catar, em 2022) levantou a bandeira antes do avançado alemão fazer a assistência, de cabeça, para o colega de equipa;
– O árbitro apitou de imediato (antes também da cabeceamento do germânico);
– Com o jogo já interrompido, a bola chegou aos pés de De Ligt, que a rematou para o fundo da baliza de Lunin.
A situação gerou muita animosidade dentro e fora do campo, o que se compreende face ao que estava em disputa.
As leis de jogo referem expressamente que, quando há vídeo tecnologia, “o árbitro assistente deve retardar a bandeira (e o árbitro o apito) em infrações que aconteçam numa muito clara situação de ataque, quando um jogador está prestes a marcar um golo ou tem uma corrida claramente para/em direção à área de penálti do adversário”.
Ora, em bom rigor, foi exatamente o que aconteceu ali.
Em termos técnicos, a questão é relativamente simples de analisar:
1. O árbitro assistente precipitou-se ao levantar a bandeira antes do final da jogada, contrariando a lei e as indicações que tem para lances como aquele;
2. Não é líquido que o fora de jogo tenha sido bem ou mal assinalado, apesar da ‘aparência’ de legalidade da posição de Müller (a olho nu, que é falível). Só a linha tecnológica poderia confirmar ou desmentir o acerto da decisão;
3. O árbitro polaco ‘ratificou’ a precipitação do colega, ao interromper a partida naquelas circunstâncias. Podia e devia ter ignorado a indicação e assinalado o hipotético fora de jogo apenas quando a jogada terminasse;
4. Neste caso, o VAR nada podia fazer. A paragem prematura do jogo inibiu eventual intervenção/correção;
É justo sublinhar que tecnicamente não houve golo anulado ao Bayern: a bola deixou de estar em jogo antes de entrar na baliza de Lunin.
E é também justo sublinhar que, ao ouvirem o apito de Marciniak, os defesas mais próximos da ação (tal como o guarda-redes do Real) ‘relaxaram’, não sendo por isso garantido que o remate do central neerlandês fosse mesmo parar às redes do adversário.
Ainda assim, para a história ficará uma decisão que resultou numa precipitação grave de dois árbitros categorizados, o que só prova o que sabemos há muito: mesmo ao mais alto nível, o mais qualificado dos profissionais pode errar. E erra.
O problema não será nunca a má decisão pontual, mas a consequência desportiva que ela pode ter ou, pior, os danos reputacionais que advenham para a sua imagem.
Que não seja isso a queimar um dos valores mais seguros da arbitragem mundial.
Veja o vídeo:
Polémico ????#ChampionsELEVEN pic.twitter.com/bug7SJZmaF
— DAZN Portugal (@DAZNPortugal) May 8, 2024