Autor

Carlos Matos

Data: 09/12/2020

Opinião de Carlos Matos sobre os acontecimentos no PSG – Basaksehir

Racismo, facilitismo (errado) no procedimento, esquizofrenia social, ou mal entendido?

Como todos sabemos o jogo da Champions League, PSG vs Istambul Basaksehir foi adiado e irá ser dirigido por outra equipa de arbitragem.

Factos: A comunicação entre o 4º árbitro e o árbitro para destrinça de um elemento no banco de suplentes foi baseada na cor da pele.

Pessoalmente entendo que cada pessoa é um ser único.
Por isso somos todos diferentes uns dos outros que devemos ser respeitados de igual modo.

A etnia determina as caraterísticas pelos seus aspetos socioculturais.
A “raça” seria definida por critérios físicos ou biológicos.
A raça é utilizada no senso comum e é incorreto afirmarque a espécie humana possui diferentes raças: O DNA entre pessoas com diferentes caraterísticas físicas varia em menos de 0,1 %. Cientificamente não se justifica a criação de subespécies ou subcategorias dos seres humanos.

Aristóteles na Grécia Clássica reconhecia que havia racismo: “Os gregos são livres por natureza. Os “bárbaros” (os não gregos) são escravos por natureza, pois é da natureza deles estarem predispostos a se submeterem a um governo despótico. Entendo que o racismo é um preconceito e discriminaçao com base em percepções sociais baseadas em diferenças biológicas entre os povos.

O facilitismo, com errado procedimento, na identificação levou por exemplo a que o jogador Cláudio Ibraim Vaz Leal que jogava num equipa constituída por jogadores de cor preta o identificassem como o Branco. Tudo o mundo conhece este jogador, que fez parte da icónica equipa do Brasil que venceu o Treta Campeonato Mundial e foi determinante ao marcar um golo nos 1/4 final contra a Holanda. Sempre envergou na camisola o nome BRANCO.

Posso igualmente relatar uma vivência que tive, atuando como árbitro assistente nº 1 (sem diferenciação relativamente ao colega, mas somente porque identifica quem atua no lado do banco dos suplentes) num jogo entre seleções A na Irlanda. Esta equipa iniciou o jogo com os 2 defesas centrais a envergarem a camisola nº 4. O 4º árbitro, para que tenham uma 1ª impressão da pessoa, digo que foi dos seres mais inteligentes com que lidei, com um respeito por todos admirável e de uma abertura de mente singular, achando o fato estranho perguntou-me “Matos, estou a ver mal ou há 2 jogadores com o nº 4?”, confirmei a veracidade. Ele afável e com cortesia dirigiu-se ao delegado e questionou: “The are 2 players wearing number 4. Who is the right one: The white player or the negar?”.
Confusão generalizada, declarações de não continuarem a jogarem e de fazerem queixa à polícia. “Great mess!!!”
Este vosso amigo, com enorme estupefação e a calma necessária, indagou junto do delegado o motivo da grande bagunça e a razão da indignação, ao qual a resposta foi peremptória: “Our player is black, not neger”. Vi no imediato o “misunderstanding”. Para os ingleses “neger” está conotado com racismo (nos dicionários a tradução de negro é “black”) e com a exploração esclavagista. Os navios portugueses que faziam o transporte de escravos negros de Angola para o Brasil eram denominados de negreiros. Comprendi a indignação, mas teria que explicar ao delegado a liguagem tida pelo colega e amigo 4º árbitro e tentar salvar a situação.” neger is in the Portuguese language the polite way to refer to a person with black skin color. For him nothing offensive, much less racism”. O mal entendido foi sando e o “show must go on”. No final um abraço entre os intervenientes selou que a espécie humana é só uma. Inesquecível!
Esquizofrenia social – Há uma tendência na sociedade atual, sem os conhecimentos necessários e análises apressadas, para exponenciar as situações e, em casos semelhantes, colocar o selo de racismo.

Fato que na história me remetem ao ano de 1506: A ignorância popular e generalista junto ao atual Rossio lamentava as inúmeras mortes atribuindo a catástrofe da peste à vingança divina (alguma coisa em comum no século XXI sobre as mudanças climáticas ou o vírus?). Um judeu com maior conhecimento científico e oriundo de uma sociedade com outros horizontes tentou explicar que tal se tinha devido a fenómenos naturais. Foi no imediato morto e a Inquisição, convenientemente, aproveitou para fazer um dos maiores massacres em Portugal onde pereceram cerca de 5000 judeus.

Sem lá ter estado não vou fazer juízo de valor, mas arrisco a dizer que o 4º árbitro não foi racista e teve um procedimento errado. Romeno, também de língua nativa, talvez sem ter um “fluent english” para ele “negru” na sua nativa língua (era o facilitismo na diferenciação) que não consubstanciava qualquer ato, mas que terá obviamente consequências na sua carreira desportiva.
Estou pronto e receptivo a qualquer comentário contrário que se identifique com a atual esquizofrenia atual. Só peço que a atual Inquisição não me mate.
Quantos conflitos e desavindas, mesmo gerras foram iniciadas por ignorânia ou simples mal entendidos?

Tentem ser felizes, sem ajuizar sem conhecimento de causa e muito menos com laivos de inveja.
Feliz Natal, muito para além do espírito cristão, mas como a própria natureza no seu ciclo evolutivo faz do solstício de inverno uma oportunidade de renovação.

Nota: texto retirado do Facebook