Opinião: Síndrome de sonho de jogador




Lembro-me quando era pequeno e como adorava sonhar... Sonhava o habitual de qualquer criança, nada de extraordinário ou diferente. E quando o futebol surge na rotina ou quotidiano de um petiz e se começam por dar uns pontapés numa qualquer redondinha na rua com os vizinhos, todos sonhamos vir um dia a ser grandes craques, tal e qual aqueles que víamos na TV, aqueles da nossa equipa.Pegando na introdução desfaço logo um mito "um árbitro não tem clube". Mentira! Óbvio. Para se ser árbitro é preciso gostar-se imenso do futebol, é uma actividade amadora, daquele que ama o que faz, para se gostar assim tanto teve que haver um início em que claramente tínhamos um clube preferido. Muito dificilmente alguém aos 10 anos gosta de futebol só por gostar, e discute o tema como se gente grande fosse. Não, não é assim. Gostamos no geral, mas temos a preferência em particular.Voltando ao tema… Será que algum miúdo poderá vir a sonhar ser árbitro? Dificilmente. Então quando poderá surgir esta mera hipótese na adolescência? Apenas aparecerá caso não tenhamos demonstrada a capacidade para vir a ser um jogador de eleição. Se assim fosse seria esse o nosso caminho.Num dos últimos fins-de-semana ouvi uma curiosa interjeição dum espectador "se tu percebesses de bola tavas era a jogar!". Será que se aqueles jogadores que eu estava a arbitrar percebessem de bola não estariam num Barcelona ou Real Madrid? Não entremos por ai. Também se diz que para ser um bom treinador, só tendo sido um grande jogador, e olhem o Mourinho! São apenas dogmas.Provavelmente 90% dos árbitros foram jogadores ou projectos disso e não tendo grande qualidade enveredaram por outro papel. Porque "a bola" continuava no pensamento, não tinha era chegado à técnica de execução.É verdade, temos a síndrome de jogador falhado. Mas nem por isso temos menos paixão pela modalidade. Hoje muitas vezes paro para pensar e pergunto o que faria se não fosse árbitro. Não sei, e vocês? Talvez fosse treinador, quem sabe.Pois é, talvez sim, talvez não, mas mesmo não tendo tudo o que sonhei em criança, sonhei depois com tudo que tenho e assim continuo sonhando com o futebol que tanto deleite me continua a dar.

Dinis Girjão