Opinião: “É mais fácil olhar para fora da janela que para o espelho.”


Esta frase pertence a Vítor Pereira, presidente da Comissão de Arbitragem da LPFP, numa das suas últimas afirmações públicas. Uma clara indirecta em jeito de farpa aos autores das críticas que se tem ouvido nas últimas jornadas.
Fazendo uma analogia entre os campeonatos profissionais e o nosso distrital, é óbvio que também aqui se encaixa a mesma permissa. Também aqui mais tarde ou mais cedo vão aparecer as vozes indignadas desta ou daquela apitadela.
Quando se exerce a função de árbitro, sendo pública, está-se sujeito ao escrutínio e à crítica de quem compete e de quem visiona os jogos.
A cara de quem perdeu nunca será igual à de quem ganhou, e o caminho mais fácil é muitas vezes apontar e enumerar os erros cometidos...pela equipa de arbitragem, mesmo que não se tenha produzido um futebol capaz, isso não se reconhece, fica apenas para a palestra do próximo treino, coisas apenas ditas dentro do balneário. Para fora as pessoas gostam de exteriorizar dando as culpas aos outros, pressionando desde logo os árbitros dos próximos jogos.
Um defesa que coloca em jogo os avançados levanta o braço e atira o odioso para cima do assistente, um treinador em maus lençóis queixa-se de ser prejudicado, um dirigente desgostoso com o investimento feito sem resultado queixa-se do sistema. É recorrente, não devia mas já é habitual, tão normal que o "pós jogo" qualquer dia não tem interesse. Nem devia! Todas as semanas o mesmo tipo de declarações, já estamos formatados para não as valorizar grandemente.
Porque após o apito do árbitro pouco mais há a dizer, só já se pode mudar dai em diante.
Mas, sejamos honestos, quem quiser ser árbitro e esteja à espera duma carreira pública só com elogios bem pode recuar e procurar outro hobbie. Também nesse parâmetro os homens do apito devem ter poder de encaixe, saber destrinçar as críticas construivas, das desculpas dos derrotados. Saber ouvir para melhorar, identificar os pormenores menos bons para torná-los melhores.
Também aqui há a reciprocidade da frase que dá título a estra crónica, e não tenham os árbitros sempre a vontade de chutar para canto todas as críticas, fazendo ouvidos de mercador. Muitas vezes também nós finalizamos um jogo insatisfeitos, mas longe de nós virmos desculpar-nos para as rádios ou jornais com argumentos esfarrapados.
É assim o futebol, é assim a nossa cultura latina, no desporto como na vida todos gostam de levar à letra a máxima "quem não pede não ouve deus", e então todos nos queixamos, cada um com a sua música, cada um consoante a sua dor!

Por Dinis Gorjão