O árbitro suíço prometeu preparar profissionalmente seus colegas assim como os jogadores se preparam para os campeonatos.
"O lance de Busacca", "A partida do número 1", "Busacca surpreende com a mudança", "Busacca muda de lado", "Busacca revoluciona carreira": essas são algumas das manchetes publicadas logo depois da decisão do melhor árbitro suíço de aceitar o convite da organização desportiva.
Em entrevista à swissinfo.ch, o suíço de 42 anos levanta a perspectiva de incluir mais dois árbitros adicionais aos jogos durante a Copa do Mundo de 2014 no Brasil.
No entanto, a solução do quinta e sexto árbitro precisa ainda ser testada na Eurocopa de 2012 na Polónia e na Ucrânia. Busacca só consegue imaginar a utilização de câmaras nas linhas do golo.
swissinfo.ch: Abandonar o posto de árbitro activo surpreendeu e causou irritação. O recém-saído chefe de árbitros Urs Meier chegou a declarar-se chocado. Você se surpreendeu com essas reacções?
Massimo Busacca: Não muito, mas é uma honra para mim escutar que o Busacca era importante ou que o Busacca tinha qualidade. Se não fosse isso, a surpresa seria seguramente menor.
As pessoas perguntam-se a razão por abandonar a minha carreira três anos antes de concluí-la. Eu decidi aceitar esse cargo de chefe dos árbitros na FIFA, pois ele me dá grandes possibilidades. Assim posso continuar actuando na área de arbitragem, que eu sempre amei. Sobretudo posso assim transmitir minha experiência de 22 anos de carreira aos outros árbitros. Não é uma despedida, mas sim apenas um simples adeus.
Tenho de agradecer a Deus e à minha mulher pela minha carreira, ao qual me sacrifiquei por todos esses anos. Também agradeço ao meu empregador (o cantão do Ticino), que sempre dizia "Massimo, pegue o dia livre, você pode ir". Mas exactamente agora no final não era sempre fácil conjugar o emprego com a actuação de árbitro.
swissinfo.ch: Você defende a ideia de árbitros profissionais na Suíça, como o chefe dos árbitros, Urs Meier, já reivindicou?
M.B.: Na minha cabeça eu sempre fui um profissional, mesmo sem o apoio profissional da federação. Meu lema era: "Se você quer alcançar algo, é preciso se sacrificar e então vêm os resultados".
Eu só pude dar esse desempenho e qualidade, pois sempre submeti a minha vida às exigências do trabalho de árbitro. Durante todos esses anos eu reduzi a minha carga de trabalho para poder me preparar seriamente aos jogos.
Minha decisão, que foi bastante pensada, não tem nenhuma relação com a saída de Urs Meier. Eu me distancio da polémica. Prefiro continuar dando uma contribuição positiva. Por isso aceitei essa nova tarefa.
swissinfo.ch: A partir de agosto, como chefe dos árbitros da FIFA, você será o mais importante árbitro do mundo. Qual será realmente o seu trabalho?
M.B.: Assim como o treinador de uma equipe de futebol, eu serei o treinador dos árbitros. Eu terei de analisar juntamente com essa equipe o que podemos melhorar.
swissinfo.ch: Os jogos ficam cada vez mais rápidos. Árbitros na linha do golo já actuam na Liga dos Campeões depois de terem participado do campeonato europeu. A Copa do Mundo de 2014 no Brasil também terá o quinto e sexto árbitro?
M.B.: Ainda é muito cedo para dar uma resposta, mas nós iremos fazer tudo para que, em 2014, os espectadores de todo o mundo possam ter um fantástico campeonato.
A tentativa com os árbitros de linha de golo não foi das melhores no início. Porém, na Liga dos Campeões neste ano, a actuação dos dois árbitros adicionais foi um grande sucesso. Por isso esses testes irão continuar.
Na Eurocopa de 2012 na Polónia e na Ucrânia iremos ver, pela primeira vez, como os seis árbitros saem em um grande campeonato. Se a avaliação dos testes for positiva, iremos utilizar os árbitros de linha de golo na Copa do Mundo de 2014 no Brasil.
swissinfo.ch: Depois de várias decisões polémicas de árbitros durante a Copa do Mundo na África do Sul há um ano, aumentaram as exigências de provas de vídeo. Qual a sua opinião sobre o tema? M.B.: Eu sou contra. Nós falamos do quinto e sexto árbitro. Eu estou convencido que essa é uma boa solução para avaliar melhor uma situação.
Existem duas discussões: nós precisamos ter 100% de confianças nas pessoas. Nós temos confiança nos grandes jogadores, que fazem de tudo pelo sucesso das suas equipes e, por isso, ganham muito dinheiro. Mas também as estrelas cometem erros e nós aceitamos isso.
Porém não queremos aceitar que um árbitro, que em cada jogo precisa tomar inúmeras decisões, cometa erros. E para diminuí-los, temos hoje o apoio adicional de um árbitro de linha de golo e até de uma câmara na trave. Em relação a outras situações do jogo, sou estritamente contrário à utilização de câmaras.
Assim como os jogadores, também os árbitros têm de lidar diariamente com futebol, sejam eles profissionais ou não. No papel alguém pode ser um profissional, mas apitar ruim.
A profissionalização está focada, em primeira linha, na qualidade. Para os árbitros, isso significa que eles recebem muito mais tempo para se preparar. Isso inclui o estudo das análises de vídeo, assim como do intercâmbio contínuo com a equipe de árbitros.
Mas precisamos abandonar a exigência de um árbitro que não cometa erros. Para descartar as falhas, precisamos trocá-lo por uma máquina programada. Mas eu estou convencido que essa possibilidade significaria o fim imediato do futebol.
swissinfo.ch: A idade limite dos árbitros é de 45 anos. Não seria melhor ter mais flexibilidade para manter os mais capazes?
Um efeito do bom trabalho: os árbitros poderiam ser cada vez mais exemplo para os jovens. É como na equação: "Quando melhor qualidade no cume, melhor qualidade vem da base".
Fonte: Arbitragem Algarvia swissinfo.ch