José Fontelas Gomes, líder do Conselho de Arbitragem, assistiu
com Gianni Infantino, presidente da FIFA, à arbitragem de Artur Soares Dias no
Itália-Alemanha com a ajuda de Jorge Sousa à frente de 32 câmaras.
O jogo particular entre a Itália e a Alemanha realizado
anteontem em Milão (0-0) foi considerado um passo de gigante rumo à introdução
do videoárbitro no futebol. No campo esteve o árbitro português Artur Soares
Dias e como video-árbitro Jorge Sousa, que teve a companhia do presidente da
FIFA, Gianni Infantino, e do presidente do Conselho de Arbitragem, José
Fontelas Gomes, que explica ao DN a reação do homem que lidera o organismo que
superintende o futebol a nível mundial.
"O presidente da FIFA ficou extremamente satisfeito.
Acompanhou in loco o desenrolar do jogo, esteve na carrinha grande parte do
encontro para perceber a verdadeira mais-valia desta ferramenta. Ficou muito
contente e pelas declarações que vi está bastante entusiasmado", refere
José Fontelas Gomes, que vê no italo-suíço um trunfo para a causa: "Tenho
a certeza de que é um aliado de peso para que o videoárbitro comece a
funcionar, mas é preciso ver as condições dos outros países, de forma a que
estejamos na presença de uma ferramenta global."
Para José Fontelas Gomes "a arbitragem portuguesa esteve
num momento histórico para o futebol, para o seu futuro concretamente" e é
um "orgulho a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) estar nesta fase do
projeto". Inclusivamente a nomeação de Artur Soares Dias para o
Itália-Alemanha em seleções A e de Hugo Miguel para o Itália-Dinamarca em
sub-21 - ambos auxiliados por Jorge Sousa, na função de videoárbitro - foi
vista como o reconhecimento do "trabalho e do esforço da FPF", que
tem marcado presença em workshops de desenvolvimento do videoárbitro "com
o International Board e a FIFA".
Decisões em cinco, seis segundos
Sobre o jogo propriamente dito, Jorge Sousa teve uma intervenção
direta em dois lances. "Houve um lance de possível penálti para a Itália e
um golo anulado à Alemanha. Esses dois lances foram bem ajuizados no campo por
Artur Soares Dias mas o video-árbitro conseguiu tomar uma decisão com rapidez em
cinco/seis segundos que acabou por suportar o julgamento de Artur Soares Dias.
Da experiência que temos tido as situações são decididas de forma célere."
E afinal como se processa a comunicação entre o árbitro de campo
e o árbitro que tem à sua frente as câmaras? - neste jogo foram 32 ao passo que
nos sub-21 foram sete. "A primeira decisão é do árbitro de campo, que pode
reconsiderar a sua decisão, através da comunicação com o video-árbitro, desde
que o jogo não tenha recomeçado. Mas se o próprio video-árbitro tiver alguma
dúvida a decisão final é do árbitro de campo, sendo que as quatro situações
protocoladas para o video-árbitro intervir são, como se sabe, lances de penálti,
de expulsão, de golo e de identificação de um jogador. Jorge Sousa, na
carrinha, ouve toda a comunicação da equipa de arbitragem que está no campo e
quando quer intervir carrega num botão para entrar no circuito", explica
José Fontelas Gomes, que ficou feliz por o "sentimento generalizado das
entidades presentes foi de que correu tudo muito bem, inclusivamente a
excelente arbitragem no campo do Artur Soares Dias".
Uma realidade no Mundial 2018
José Fontelas Gomes não arrisca uma data para a integração
global do video-árbitro, mas mostra esperança num evento que poderá ser o
catalisador desta ferramenta a nível mundial. "Ainda não há uma data
específica. Nós, em Portugal, fizemos um teste offline na Supertaça e talvez
consigamos fazer mais testes semilive, como este do Itália--Alemanha, mas isso
depende sempre de autorizações. Acredito que no Mundial 2018 seja uma realidade
e a partir daí as coisas aconteçam naturalmente para todos e não só para
alguns", esclarece.
O
que parece certo é que, mais ano menos ano, o recurso ao video-árbitro
dificilmente passará à história como uma tentativa abandonada de melhorar a
verdade desportiva. "Pelo investimento que tem sido feito, o video-árbitro
é um caminho sem retorno. Com a informação que temos hoje e as experiências que
foram feitas esta ferramenta é uma mais-valia", constata o dirigente, que
não vê o video-árbitro ser executado por alguém sem experiência de campo.
"A FIFA quer que esta função seja desempenhada por árbitros no ativo, que
estejam no topo. O video-árbitro tem de conhecer o jogo e as dificuldades que um
árbitro sente no campo para em segundos ir buscar as imagens precisas no meio
de 30 câmaras."
Fonte: DN