I Liga terminou com o mais baixo registo de cartões dos últimos três anos.
A temporada 2012-13 trouxe uma mudança para a arbitragem portuguesa. Foi um ano que deixou os árbitros com as pernas pesadas, devido ao número de jogos que cada um ajuizou. Mas nem por isso os juízes deixaram de ter mão leve, em comparação com as mais recentes edições da I Liga: as estatísticas do campeonato mostram que o número de cartões foi o mais baixo desde 2009-10, contrariando a tendência de subida que se vinha a verificar.
Os dados recolhidos no site oficial da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) mostram que o número de cartões mostrados nos jogos da I Liga em 2012-13 desceu 8,2% relativamente ao ano anterior. Foram, no total, 1319 (amarelos, duplos amarelos e vermelhos), um número aquém dos 1437 registados em 2011-12. Em 2010-11 tinham sido 1420, enquanto em 2009-10 o total ficou abaixo dos 1300: 1283. "Quando cheguei à I Liga, deixava jogar e isso caiu bem", reconheceu ao PÚBLICO o ex-árbitro Pedro Henriques, acrescentando: "Quando me retirei, voltou aquela postura de se apitar mais". Mesmo assim, e face ao decréscimo de cartões exibidos na I Liga, o militar concedeu que houve uma "mudança de atitude por parte dos jogadores e árbitros". "O relacionamento é cada vez melhor, o comportamento tem vindo a alterar-se e a compreensão da arbitragem é melhor", sublinhou.
Artur Soares Dias foi o árbitro que mais jogos apitou na I Liga 2012-13: 15. Mas nem por isso foi aquele que mais cartões mostrou, pelo contrário. O árbitro portuense exibiu no total 77 cartões (nesta análise, uma expulsão por acumulação conta dois amarelos e não um vermelho), contra os 94 em 14 jogos do também portuense Jorge Sousa. O registo deste último foi inflacionado pelo FC Porto-Sporting da sexta jornada, o encontro com mais admoestações disciplinares. Foram 14 cartões no total (12 amarelos e um duplo amarelo). O Beira-Mar-Olhanense da 24.ª jornada, dirigido por Pedro Proença, surge em segundo lugar, com 12 cartões.
Apesar das críticas - por vezes ferozes - feitas à arbitragem durante o campeonato, Pedro Henriques acredita que o balanço é positivo. "Todos os anos, quando há erros e as equipas perdem, vão para cima das arbitragens. E todos os anos temos jogos mais flagrantes onde isso acontece", admitiu. "Houve três ou quatro momentos em que isso aconteceu", prosseguiu o ex-árbitro, notando que a incerteza até ao final em vários sectores da classificação da I Liga contribuiu para isso.
Outro aspecto importante sobre a arbitragem portuguesa em 2012-13 está relacionado com o elevado número de jogos que cada árbitro ajuizou. O alargamento da II Liga implicou uma sobrecarga: em 2011-12 a média de jogos (na I Liga, II Liga e Taça da Liga, provas das quais a LPFP disponibiliza estatísticas) de cada árbitro era de 20,9. Já na temporada que agora terminou esse valor ultrapassou os 30. "Houve mais carga física e menos tempo de recuperação", salientou Pedro Henriques. De resto, já no início da temporada o presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol, Vítor Pereira, admitia estar preocupado: "A estrutura da arbitragem não é profissional e, do meu ponto de vista, os árbitros vão ter dificuldades acrescidas em conciliar a vida profissional com a arbitragem".
As solicitações aumentaram, o que dá nova actualidade à questão da profissionalização. "É importante, sem dúvida", reforçou Pedro Henriques. Para já, a Academia de Arbitragem, lançada por Vítor Pereira no início deste ano, dá uma ajuda na formação. "Os árbitros começam mais cedo a fazer os cursos e aparecem mais cedo na I Liga", disse o ex-árbitro. Isso tem vantagens e desvantagens, sublinhou: "O factor experiência - de futebol e da própria vida - é importante, como em todas as profissões. Um árbitro tem de gerir 22 pessoas e os bancos de suplentes. A maturidade é extremamente importante".
Fonte: Público