
O tal do fora de jogo posicional de Shembri, que levantou muitas dúvidas e gerou grande discussão sobre a sua legalidade.
Foi fora de jogo? Não foi? Tocou na bola? Não tocou? Interferiu no adversário? Não interferiu? Teve impacto na defesa? Não teve?
Só o número de perguntas possíveis atestou, desde logo, a enorme dificuldade de análise desta situação.
Neste mesmo espaço e em tempo devido, procurei esclarecer os caros leitores acerca do que diziam "os livros" sobre esta matéria. E hoje recordo, eles rezam mais ou menos isto:
- Sempre que um jogador tente claramente tocar a bola (mas não o consiga) e essa ação tenha impacto nos defensores, deve ser punido por fora de jogo.
Então, disse, o segredo seria decidirmos se a ação de Schembri tinha ou não tido impacto no adversário.
Exercício Básico - Revejam o lance.
- Se entenderem que a ação do avançado do Boavista teve impacto nos defensores, defenderão o fora de jogo.
- Se acharem que não, dirão que o lance foi legal.
Perguntarão: porque razão estamos a falar desta situação novamente?
Pela oportunidade do tema. É que o Conselho de Arbitragem pronunciou-se recentemente sobre ele.
No seu entender, o lance devia ter sido punido por fora de jogo, por considerar que a ação de Schembri teve impacto na ação do GR Ederson.
Tal como aqui referido, essa é uma opinião perfeitamente legítima porque fundamentada numa das duas interpretações que a lei sugere.
É agora a posição oficial do órgão que superintende a arbitragem em Portugal. Significa que, futuramente e em lances análogos, os árbitros decidir-se-ão sempre pela punição.
Esta leitura - repito, perfeitamente plausível - foi confirmada pela UEFA, a quem o CA afirmou ter recorrido, seguramente pelo facto de ter tido dúvidas sobre qual a decisão a tomar.
Para nós - comentadores, adeptos e apaixonados por futebol - não é importante concordar ou discordar com esta interpretação.
É importante respeitá-la e aceitá-la como correta.
Se, tal como eu (e vários peritos nacionais e internacionais em leis de jogo) entenderem, ainda assim, que Schembri, colocado naquele momento a cerca de oito metros do GR e em movimento claramente contrário ao da baliza, não teve impacto na sua ação, não se inibam de manter a vossa perspetiva.
Ela é tão válida como qualquer outra.
Se reparar bem, os tribunais portugueses estão cheios de processos pendentes porque defesa e acusação fazem análises distintas da lei. Da mesma lei.
Não é crime. É democracia. Não é disparate. É liberdade para raciocinar.
Esta discussão é saudável e reflete apenas o empenho de muita gente - CA incluído - em elucidar e esclarecer as pessoas sobre a grande dificuldade que é escrutinar as leis que regem o desporto rei.
Mais.
Ela sublinha uma realidade a que todos devem formatar-se no futebol: é que nem tudo é objetivo, nem tudo pode ser carimbado e nem tudo pode exigir uma só resposta. Uma só verdade.
Aliás, se fosse tudo preto no branco, o futebol seria uma valente seca. Não seria?
Fonte: Expresso